domingo, 12 de dezembro de 2010

Estudo Errado

Pois é. Pensei em trezentos assuntos sobre os quais poderia dissertar hoje. Fome na África, guerras religiosas, etc.. Afinal, a escolha acabou recaindo sobre a reaplicação da prova do Enem e as decisões jurídicas a ela correlatas.

Apenas para situar os leitores: a prova será reaplicada, para alguns alunos, devido a erros de impressão e de organização. A data do novo certame será 15 de dezembro, uma quarta-feira.

A Defensoria Pública do RJ entrou com uma ação objetivando a suspensão dessa nova realização do exame, visto que: a) por ser meio de semana, comprometerá quem labora (embora exista previsão, na CLT, de falta justificada em caso de prestação de exame para ingresso em instituição de ensino superior), e; b) coincidirá com datas de outros vestibulares importantes, como o ITA.

O pedido liminar foi negado, visto que já existem outras ações nesse sentido, bem como, segundo o juízo, os alunos poderiam apresentar nota justificante no serviço.

Por outro lado, o Inep admite que estudantes que não precisariam refazer a prova estão sendo convocados; assim, pede que estes desconsiderem o convite. Ademais, o ministrao Haddad repete para quem quiser ouvir que o número de prejudicados é baixo, se comparado com o total de examinandos.

Ok, pintei o quadro. Surrealista tal Dalí; rídiculo como o jeitinho brasileiro (porque essas decisões furadas e argumentos incipientes só podem resultado disso).

Primeiro lugar: o número de prejudicados não se restringe, como quer o governo, àqueles que tiveram problemas com suas provas. Essa lógica é estritamente equivocada se considerarmos que o exame se presta ao ingresso de um universo indeterminado de estudantes em instituições públicas de ensino superior. Ou seja, todos fazem a prova disputando um lugar nos bancos universitários gratuitos e, para isso, devem gozar de condições iguais para tal. Devem ser tratados igualmente! O refazimento do teste vai acabar beneficiando - indevidamente, diga-se de passagem - esses prejudicados, colocando-os novamente em situação de desnível em relação aos demais. Só que agora, em desnível positivo. Não resolve o problema, apenas inverte o lado da balança!!! Falando em linguagem jurídica, malfere frontalmente o princípio constitucional da isonomia.

Segundo lugar: não obstante isso, o consórcio organizador é tão parcamente organizado que permitiu nova prestação do exame a pessoas que nem prejudicadas foram! Aí o erro acima apontado se torna pior, visto que gera uma dupla injustiça: beneficia quem foi e quem não foi prejudicado. É praticamente um bis in idem (ou uma aplicação dupla de algo que gera vantagem ou desvantagem)! Isso do Inep pedir aos indevidamente convocados que não compareçam só pode ser piada! Há quem aproveite a nova chance, já turbinado pelos últimos vestibulares feitos e pelos cursinhos preparatórios ainda em funcionamento. Será uma nova oportunidade para poucos.

Terceiro lugar: prova no meio de semana, junto com outros vestibulares? Parem tudo! No intuito de compensar, acaba prejudicando em outro aspecto! Sem comentários... a atitude do governo/Inep é absolutamente inconstitucional, pois simplesmente fere o interesse público e visa, em última análise, o fim do Estado em si, sem considerar o interesse dos administrados e, mais especificamente, dos alunos prejudicados... ou seja: todos!

"All we are is just another brick in the wall"

Vamos aos causos:


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 07/12/10, Term. Maracanã. Lá pelas 15:00h, percebi que um dos veículos, o HL109, da linha Colombo/CIC, não tinha chegado. Ficara pelo caminho, pois quebrou. Anotei isso, resolvi os problemas e fui para o Term. Sta. Cândida no final do expediente.
Depois que terminei o que tinha que fazer, resolvi pegar um Sta. Cândida/Pinheirinho para voltar ao Cabral e, de lá, ir embora. Mal subi no veículo (que já estava cheio de gente), o vigilante, a pedido do meu colega de posto, anunciou, às 18:20h: "Esse ônibus vai recolher pessoal!"
Perguntei ao motorista por quê. Ele explicou que a porta estava abrindo sozinha e além disso, tinha saído atrasado da garagem. Só aí fui olhar o prefixo do carro: HL109.

II

Term. Maracanã, dia 10/12, sexta. Anotava eu os horários de chegada dos carros quando, às 14:56h, o 18R31 e o 18R34, ambos ônibus da linha Cabral/Guaraituba, modelos idênticos, chegaram ao mesmo tempo ao terminal. Deu-se, então, uma cena impressionante: como se fosse um espelho, cada um chegou ao seu lugar no mesmo exato segundo, em lados diametralmente opostos; era como se fosse uma tela totalmente invertida. Acho que nem se fosse combinado daria tão certo.

III

Term. Cabral, mesmo dia 10, às 18:23h. Voltava para casa depois de um dia estafante de serviço quando, pouco antes de subir no carro, duas mulheres me perguntaram:

- Onde fica o ponto de táxi?
- Tem um ali logo na esquina... vocês vão até ali atrás do Terminal e logo atravessam a rua...
- Sim, mas tem que dar a volta no Terminal?
- Não necessariamente... vocês saíram dele?
- Não, a gente nem entramos no terminal...
- Ah... tudo bem, pe ali na esquina mesmo... vocês vão chegar lá e já vão ver o ponto.
- Ok, obrigada.

Aaaaaaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrggggggggggggghhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!


Poema do dia:


Lápide Popular

Veio por meio de contrato
Sem fato, sem ato
Invenção da legitimação
Legado do e pro Estado
Usar e abusar
Onde fomos parar?

Cristiano Tulio - 13/12/2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Happy Birthday, Sweet Sixteen¹

Tinha pensado num assunto bem interessante para abordar aqui hoje... entretanto, foi às cucuias: esqueceu-me o que era. Lembrei-me então de um fato ocorrido durante essa última, largamente divulgado nos jornais, e aí decidi, sobre ele, debruçar-me.

O caso foi o daquela adolescente de 13 anos que fugiu de casa para encontrar-se com um namorado virtual, o qual morava nas cercanias da Região Metropolitana de Curitiba. Após a denunciação do sumiço da jovem pela mãe - e a consequente veiculação deste em todos os meios de comunicação possíveis -, a "criança" foi encontrada na casa da família do rapaz, que restou acusado de aliciamento de menores e, se detectada, por exames, a ocorrência de conjunção carnal entre os dois, de pedofilia.

Logo, a mãe recebia a filha em casa, em meio a choro e um caloroso abraço de alívio. Compreensível; porém, muito mal explicado.

Aí entram minhas observações, e a ligação desse assunto com a maioridade penal e a consciência dos adolescentes de hoje.

Agora, o rapaz sairá como mau elemento, aproveitador e descarado, seduzindo uma menor que - coitadinha - não sabia o que fazia ao oferecer-se para encontrar-se com ele. Conta a família do desafortunado mancebo que este a apresentou como sua namorada, e que ela mentiu sobre sua idade, dizendo ter 17 anos. A história é plausível; parece sincera.

Se assim for, pergunto-vos: alguém que não sabe o que está fazendo, que não tem consciência da atitude equivocada (?) que perpetra, se conduz de semelhante forma?

É obvio que o amásio deveria ter tomado mais cuidado: pedir os seus documentos para conferir a sua idade, claro!!! Haha... entretanto, quando encontramos uma pessoa com quem conversamos por meio da World Wide Web - ainda mais com o objetivo de, com ela, relacionarmo-nos amorosamente -, é difícil lembrar disso... existe mesmo uma confiança implícita nas informações que essa pessoa nos passa e, se elas são checadas e concebidas como reais e inofensivas no primeiro contato, por que duvidar?

Do ponto de vista jurídico, acredito que o moleque deva ser beneficiado por ter sido induzido a erro na prática do "crime", se este se verificar. As meninas novinhas e inocentes de hoje já não são tão inocentes... prova disso é que ambos os sexos perdem a virgindade cada vez mais cedo, segundo estatísticas relativamente recentes; é, também, que as meninas que tem 13 ou 14 anos parecem ter - e se vestem como se tivessem - 17, 18 anos. Enganos acontecem, infelizmente.

"She's just sixteen years old
Leave her alone, they say

Não é que o garoto tenha se conduzido da melhor forma... foi coió, certamente! Mas, parem! Esse sensacionalismo barato para destacar uma lição de moral de onde ela não existe é simplesmente subestimar minha inteligência; uma ofensa à minha capacidade de discernimento.

Vamos à diversão.


Causos do Transporte Coletivo

I

18/11, quinta-feira, Terminal Cabral, 14:29h. O motorista do BN411, linha São João, encostou e começamos a conversar enquanto não dava o tempo dele sair. Papo vai, papo vem, ele me sai com essa:

- Hoje eu almocei massas e frutos do mar!
- Opa, beleza hein! O que que era?
- Miojo com sardinha!!!

II

19 de Novembro, sexta, 15:19h, Terminal Cabral. Meu colega tinha ido lanchar e contava-me, na volta, que um "viado" tinha tentado entrar no terminal sem pagar a tarifa:

- É, ele tava tentando entrar e o porteiro não deixou.
- Sim, normal.
- Não, o negócio é que ele chegou pro porteiro e disse: "Como não pode entrar? Eu vi o fiscal passar por aqui!"

III

20/11/10, sábado, Terminal Sta. Cândida. Lá pelas 15:39h, enquanto eu lanchava, achegou-se um senhor de 78 anos (depois ele me contou a sua idade) e comentou, visivelmente contrariado:

- O tipo do cabra ali, tá loco!
- Mas o que houve?
- Tá vendo aquele véio ali?

Apontou para um senhor vestido à gaúcha, que aparentava ter uns 60 anos de idade para mais.

- Sim, sim.
- Pois é, com essa idade, chegou do meu lado no ônibus e foi me dizendo "Tesão, gostoso!". Tinha que ir pro diabo!!!

Calculem a minha vontade de rir. Calculem se fiquei só na vontade.

IV

Terminal Cabral, dia 24/11, quarta. Eram 13:40h da tarde e eu estava na guarita quando uma senhora se aproximou:

- Moço, de quanto em quanto tempo tem um Cabral/Osório?
- Então... de 25 em 25 minutos... o próximo vem às 13:48h.
- Ah, certo... então tem outro daqui a 25 minutos?
- Não, senhora, o próximo chega em 8 minutos.
- Vem em 25 minutos?
- Não, em 8.
- 25???
- 8! O próximo vem daqui a pouco já!
- Ah, tá...

Fiquei imaginando o que eu faria se viesse mais uma pergunta com o cardinal 25 no meio.

V

Dia 26/11, 16:40h, Biblioteca Pública do Paraná. Eu e um colega assistíamos a uma palestra ministrada por uma funcionária da Secretaria Municipal para Pessoas com Deficiência, à qual atendemos para efeitos de progressão funcional, quando a palestrante, extremamente empolgada, principiou a falar sobre as pernas mecânicas para os amputados:

- E temos também a perna mecânica, olhem só! Ela é... mecânica, né!

Já era suficiente para sufocarmos o riso. Mas podia ser pior:

- ...E alguns modelos vêm com tatuagens na perna mecânica! Têm vários desenhos pra deixar os donos satisfeitos, pra que eles se sintam normais!


Poema do dia:

Flores E Paus

Escrevi meu destino na areia do mar
Deixando pegadas pro tempo apagar
Marquei meus mapas com falsos lugares
Onde tenho meus verdadeiros lares

Entretanto, isso de nada me adiantou
O vento não veio e a maré baixou
E os meus tesouros foram descobertos
Amontoados em campos abertos

E assim, se isso é a vida
Que mais posso eu fazer?
Mostrar a alegria contida
E a tristeza esquecida
E continuar a viver

Construi meu forte com tanto pensar
Usando do que ninguém vai negar
Porém, não contava com flores e paus
Demonstrando a teoria do caos

Cristiano Tulio - 28/11/2010

Referências:
1 - Neil Sedaka - Happy Birthday, Sweet Sixteen
2 - Benny Mardones - Into The Night

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Slave Nation

Neste último Domingo, pra variar, a leitura de uma das epístolas bíblicas me ensejou uma reflexão sobre algo extremamente em voga nos dias atuais: o assistencialismo.

Escreveu São Paulo aos Tessalonicenses: "Aquele que não trabalha não deve comer". Simples, fácil e rude.

Embora essa regra admita exceções - visto que nunca se deve fazer uma leitura dos textos antigos "ao pé da letra" - , e que há situações e situações, me faz pensar no atual "estado da arte" dos valores modernos.

Apóio a tendência de ajuda aos mais pobres e menos sortudos, por assim dizer. Entretanto, confesso que discordo completamente do tipo deste que é, hoje, empregado no Brasil, por exemplo.

Vejo e entendo que o governo faz uma redistribuição de renda equivocada: poderia lançar mão do IGF - Imposto sobre Grandes Fortunas - , constitucionalmente previsto mas jamais sequer cogitado. E quem paga pela assistência aos mais necessitados é quase que exclusivamente a classe média.

"Oh, pobre classe média!", diriam-me em tom de sarcasmo e cinismo alguns. Não, não é que ela seja exclusivamente vítima: somos, em regra, também, opressores dos desafortunados. O que não me atina é porque a carga de auxiliá-los não é extendida ainda aos realmente ricos, os que realmente têm condições de fazê-lo. A não-instituição do imposto citado para o equilíbrio sócio-econômico das classes (ou melhor, para uma maior eficácia e justiça da "paz social") é incompreensível. Emendando: é, sim, compreensível, porém não no campo lógico.

Ok. Suponha-se que isso, mesmo assim, esteja correto. Não consigo conceber, de qualquer forma, a ideia de que devemos sustentar aqueles que nada possuem sem exigir alguma contrapartida deles, exceto a de continuarem miseráveis.

Explico: você não resolve o problema se dá o peixe ao esfomeado; apenas faz por mitigar seus efeitos. O empecilho permanece. A solução é outra: ensiná-lo a pescar. Assim, em meu ponto de vista, deve-se, sim, oferecer suporte financeiro aos mais pobres, contudo cobrando deles alguma atitude que faça com que cresçam na vida por seus próprios méritos.

Contrariamente a isso, assisto diariamente a pessoas que fogem do FAS (Assistência Social daqui de Curitiba) e de albergues, preferindo dormir ao relento e passar fome a submeterem-se a algumas regras que o lugar impõe. Por outro lado, vejo cidadãos mentindo sobre sua renda para manterem os "vales" que o governo concede.

Assistindo ao longa "Tropa de Elite 2", isso me pareceu ainda mais claro.

"I walk this wild road
Can you tell me will I reach the end?
This endless night goes on
But I still can't find my way home"

Está tudo às avessas.


Causos do transporte coletivo

I

Dia 04/11/10, quinta-feira, 15:14h., Term. Maracanã. Mastigava calmamente uma das minhas barras de Nutry enquanto me dirigia de volta à guarita do cobrador, quando um senhor me abordou e perguntou:

- Você é da Urbs?
- Sim.
- Vomitaram ali dentro do Maracanã/Sta. Cândida.

Ótima forma de interromper meu lanche. Entrei no veículo para indagar dos operadores se eles tinham visto algo; disseram que não. Andamos pelo carro procurando o vômito. Logo o achamos: próximo à primeira porta de desembarque, um material róseo cobria o chão e os dois bancos. Era uma cena digna de filme de terror.

- Ah não, assim não dá. Pode recolher o carro.

Depois, na próxima viagem, voltou o mesmo carro, lavado e pronto para rodar novamente... o que a perda de quilometragem não faz.

II

Dia 02/11, 14:40h, Term. Sta Cândida. Conversava com o vigia quando ele me apontou uma moça mulata, dizendo: "A Vanessa da Moita ali também é gostosa".
Efetivamente, quando olhei, ela tinha o cabelo armado num rastafári, e eu acho que a confundiria com a vegetação, se estivesse andando pelo mato, apenas pelo cabelo.

III

Ainda no Sta. Cândida, no mesmo dia, lá pelas 16:10h, uma senhora veio reclamar dos Interbairros III para mim:

- Você é da Urbs?
- Sim
- Esses ônibus vivem atrasados, já faz tempo que estou esperando o Interbairros III.
- Eu sei, mas hoje deu azar de o único atrasado ser a tabela desse horário.
- Nada, estão todos atrasados!
- Em geral sim, mas...
- Ah, não adianta, vocês também protegem os motoristas!!!

Aí eu fiquei puto. Eu protegendo os condutores... só podia ser piada. A velha me trucou, agora eu ia subir pra doze.
Falei pra um funcionário da Glória e pro cobrador da bilheteria:

- Se chegarem dois, eu corto o atrasado e faço a velha ir no ônibus lotado só pra ela aprender.
- Quero só ver!

Dito e feito: apontou o Redentor atrasado e um Campo Largo da tabela seguinte, no horário. os dois me falaram:

- Aí, cantou a pedra, agora quero ver fazer!
- Deixe comigo.

Cheguei pouco antes do bolo de gente que esperava, subi no ônibus e falei ao motorista:

- Encoste lá na frente que eu vou te cortar.

Passou o Redentor e encostou o Campo Largo, que saiu lotadaço, com idosa e tudo. O Redentor eu instruí a recomeçar no Carmo, no horário. Afinal, não era o que ela queria?

IV

Ainda no mesmo bat-local, idêntica, data, às 16:21h, uma menina que me pedia informações olhou para o guarda que me acompanhava e disse, na lata:

- Sabe quem você parece?
- Quem?
- Shrek!

Eu rolava de rir.

V

Ainda lá, às 17:01h, a gordinha da lanchonete chegou pro vigia e disse, na frente de todo mundo:

- Aqui tem água gelada para vigilantes fortes, musculosos e bonitos aqui do Terminal.

O vigia, ligeiro, veio com essa:

- Ah, então não é comigo!!!

VI

Terça-feira, 09/11, 15:33h, Term. Cabral. Conversava com o colega Santos quando ele começou a me contar como foi o diálogo de quando fechou, uma vez, o portão para idosos , impedindo que um cidadão passasse:

- Não pode passar aqui não!
- Mas tava aberto, e eu vou perder meu ônibus!
- Não tem problema, tem ônibus até meia-noite!
- Porra, por que não posso passar? Antes tava aberto!
- Tava aberto, agora eu fechei! Dá a volta!

A maldição deve ter atingido até a oitava geração da família do Santos.

VII

Quinta, 11/11, 13:13h, Cabral. Passava por ele pra continuar trabalhando e não sei por que tive que parar ali. Aí veio o Santos e me disse:

- Viu que assaltaram um piá agora há pouco?
- Não! Como assim?
- Nah, roubaram o celular de um piá ali na plataforma... segurei até o Guaraituba!
- Por quê?
- Sempre que algum roubo acontece, pode ter certeza de que o cara embarcou no Guaraituba/Cabral!

VIII

Sexta, dia 12, lá pelas 15:03h da tarde. Acabava os tubos e ia subir no biarticulado quando a porta 3 se abriu e me revelou uma tragédia: alguém tinha "aberto a marmita" ali, lavando a porta e o chão. Logo descobri quem era: um piá de colégio trêbado já no início da tarde.
Liguei para o Carçudo no Sta Cândida:

- Véi, tou no BD124 aqui, lavaram de vômito a porta 3. Vê aí se dá pra recolher essa porcaria, tá nojento isso aqui.

Fui até o motorista:

- Cara, vomitaram lá atrás, não abra a porta 3 nos terminais.

Voltei para descer no Cabral, o piá tava babando e parecia que ia largar mais strogonoff por ali. O que é não saber beber, tá louco...

IX

Nesse mesmo dia, o Santos contava como eram os tempos antigos de trabalho dele no Banestado e na Urbs. O que ele contava era digno de um livro, porém, tive que deixar o relato na metade para continuar trabalhando.
Quando voltei, perguntei ao Ítalo-Disco o que ele tinha contado a mais, no que ele me disse:

- Pô, Psicopata, na hora em que ele me falou que tinha sido receptador de carros roubados eu saí fora, né!

Será que eu estou mesmo trabalhando no lugar certo?

X

Mais umas frases que ouvi sobre a conversão do cartão para o novo sistema:

- Oi, como é que faz pra inverter o cartão?

- Licença, eu queria reverter o cartão...


Poema do dia:

Solidão

Se tudo o que eu te disse não adiantou
Se tudo o que eu chorei somente te secou
Não há mais nada que eu possa fazer

Se a luz do amanhecer, tua Lua, apagou
E a voz do enternecer somente te irritou
É hora de apenas parar de ser

E deixar pelo caminho
Apenas duas pegadas
E toda a solidão que nos tomou
Pois, se estávamos sozinhos
Era plena a madrugada
E agora o Sol absorve nosso ardor

Se o que eu ofereci, você só rejeitou
Se aquilo que eu pedi, você não me doou
Não há mais nada que eu possa querer

Se a estrada para o teu bosque se fechou
E meu refúgio você, sem pena, cercou
É hora de eu apenas parar você

Cristiano Tulio - 09/11/2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

I Love To Hate You

Já há alguns dias que estou para postar algumas toscas divagações sobre o amor.

Cantaria Rita Lee: "ah, o amor"¹! L'amour, em francês; l'amore, em italiano; love, em inglês; amor, em espanhol; liebe, em alemão; iubesc, em romeno...² esse, ao mesmo tempo, tão nobre e tão cruel sentimento que nos põe em brancas e macias nuvens ou em frias e humilhantes poças de lodo; níveis esses que não deixam de se intercalar e de, inclusive, apresentar entre eles outras etapas atmosféricas.

No entanto, bem sabido que, quando correspondido, é uma das melhores coisas do universo. Revela-se na singeleza de gestos; na ternura de olhares; no desabrochar de sorrisos; no mencionar de vocábulos desconexos ou, pelo contrário, muito bem conectados entre si por uma tênue linha imaginária de lógica sentimental; etc., etc., etc..

Assim, por que os seres humanos - ó malditos seres humanos - tendem a complicá-lo? Por que raios os sentimentos e a relação de poder/domínio tem que entrar nesse jogo?

"Feelings, only feelings... just let'em, let'em go..."³. Talvez essa seja a resposta mais comum. Amor seria algo que não admitiria escolher, porém, tão-somente, sentir. Por outro lado, declamam os Pet Shop Boys: "you don't fall in love by chance... you choose"(4).

Outros, mais científicos, declarariam que isso seria paixão, uma reação química que envolve um punhado de susbtâncias e um monte de problemas. O amor requereria coisa diferente: conhecer o outro de fato, revelar idênticas preferências... ou, no mínimo, estabelecer completude entre as inclinações de duas almas que pouco se parecem, mas se unem por algum aspecto comum e enigmático.

Todavia, esse variado colorido, dado pelo giro do prisma que usamos para observar o nosso tema de hoje, não afasta o questionamento lançado alhures. Em termos mais simplórios: para que tornar algo simples tão complexo?

Seria a necessidade de conquista, ou a necedade dos conquistados por tão poderoso exército? Por vezes, o amor salta aos olhos, emana de todos os poros, evidencia-se nas atitudes... mas, em outras tantas ocasiões, dificilmente deixam-se os viventes domar por ele.

Dizem que não era para dar certo, que não era para ser. Eu não sei. Parece-me, ao contrário, que, com as cartas marcadas, não há como perder semelhante jogo.

É o acaso, o velho acaso, você diria. É, pensei nisso. Só que não vejo destino ou desencontro onde há a confluência de sentimentos mas, não, o diálogo de condutas e de oportunidades.


Causos do transporte coletivo:

I

Data: 14/10/10. 16:30h da tarde, mais ou menos, Terminal Cabral. Estava eu concentrado em resolver certa balbúrdia que se havia instaurado na linha do Interbairros II, quando, de repente, o celular toca. Era meu colega de serviço:

- Viu, tava precisando de uma ajuda aqui...
- Pode falar.
- Um passageiro aqui quer saber como é que faz para pegar a linha "quebra os óio"!
- O quê???

O usuário referia-se à linha Cabral/Osório.


II

Dia 21 de outubro, quinta-feira. Estava eu contando ciclistas próximo à estação tubo Fernando de Noronha quando, um pouco enfastiado da lerdeza do projeto e do tempo, entrei a observar um treino de vôlei ministrado na Rua da Cidadania dali próxima. A maioria absoluta de praticantes era de meninas e, enquanto anotava os failers que transitavam em pista proibida, assistia ao evento. Logo, numa série de exercícios de saque e manchete feitos em dupla, uma das meninas gritou para a outra:

- Seja homem, mulher!!!

III

...o que me deixou um pouco confuso. Contudo, nem tanto confuso e surpreso quanto o que se seguiu.
Enquanto o treinamento prosseguia, notei que as meninas começaram a olhar para mim com certa curiosidade. Óbvio: quem não perceberia aquele idiota enconstado na grade, olhando ora para a rua, ora para elas, com uma prancheta na mão, tomando nota de qualquer coisa?

O que eu não cuidava é que elas fossem sanar essa curiosidade:

- Viu, você é o quê? - disse-me uma delas.
- Sou fiscal.
- Fiscal do vôlei???
- Não! Fiscal de ônibus, na verdade.
- Mas o que você tá fazendo aqui?
- Tou contando quantos ciclistas andam pela canaleta.

Desenvolveu-se mais um pouco a conversa, até que chegamos aqui:

- Você é do Brasil?
- Como assim???
- Você não é de outro país, e tal?
- Não, sou brasileiro mesmo. Por quê?
- Não parece! Você parece ser de fora!
- Ah sim, não é a primeira pessoa que me diz isso. Mas sou daqui sim.
- Ah, então tá! Tchau!
- Tchau!

Perdi a chance de dar um autógrafo, eu acho.

IV

Dia 22/10, 17;20h, Terminal Boa Vista. Tudo corria bem naquele final de tarde de sexta-feira, quando o 18A44, linha Vila Esperança, manobrou para estacionar. Logo que ele encostou, o motorista abriu as portas e deixou o motor ligado, dando mostras de que ia sair. O povo acudiu ao chamado, em polvorosa, e um senhor que ia pegá-lo apressou-se em terminar com o cigarro. O condutor do coletivo instigava-o a subir e ameaçou fechar as portas algumas vezes. O passageiro, espavorido ao escutar o aviso de "porta fechando", praticamente tragou o cigarro e embarafustou-se porta adentro. Foi aí que o motorista, vendo-o sentar, desligou o motor e, conversando comigo, saiu do veículo.
Logo, uma senhora disse:

- Lá se foi a nossa alegria!

Pudera, o ônibus tinha chegado 8 minutos adiantado.


Pérolas do transporte coletivo:

Apenas uma. Uma variação, contada por outro colega meu, da conversão do cartão-transporte:

- Licença! Eu queria convencer o meu cartão...


Poema do dia:

Tudo, Menos Indiferente

Ainda que nada temas
Ao teu lado estarei
Rainha de todas as terras
Contigo, serei rei
Dona de todas as gemas
Pérola negra dar-te-ei
Se todo o amor que encerras
Vir a mim, que dele sei

Se, um dia, triste quedares
Tuas lágrimas secarei
Se, um dia, alegre ficares
Teu sorriso pintarei
Em telas belas, vivazes
Com cores das mais brilhantes
Porém, não será nem quase
A luz de teus diamantes

Não sei se, pelo escrito
Serei a luz de teu mundo
Ou se de nada servirei

Porém, aqui eu não minto:
Sendo útil ou inútil
Algo, ao menos, serei

Cristiano Tulio - 24/10/2010


Notas:

¹ Rita Lee - Amor E Sexo
² Parodiando Capitão Nascimento em "Tropa de Elite"
³ The Verve - Judas
(4) Pet Shop Boys - You Choose

domingo, 10 de outubro de 2010

All Eyes On Me

Já diria o mancebo que redigiu a epístola bíblica do Eclesiastes: "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade"¹. Pensei, dias atrás, numa versão um pouco diferente: conceitos dos conceitos, tudo é conceito.

Em diversos momentos anteriores, escrevi aqui que certas coisas são oriundas da mais pura crença, ou da mais simples valoração. Afinal, explicações partem de ideias, que partem de premissas ou axiomas. Se alguém começar a, digamos, aprofundar-se na explicação de uma pergunta, perceberá que, em dado instante, a resposta para a pergunta será a própria pergunta, a qual revelará uma concepção elementar tida e crida como verdadeira.

Entretanto, o que é curioso é que essas bases são tão naturalmente interpretadas como verdades que não percebemos que elas o são apenas em nosso universo. A partir daí, padronizamos conceitos e explicações nessas afirmações.

Ocorreu-me, por exemplo, um dia desses, enquanto assistia de passagem a um programa que discutia a possibilidade de vida extraterrestre, que a vida como a consideramos possível é muito difícil de ser encontrada em outros planetas, dada a peculiaridade do funcionamento de um ser vivo. Por outro lado: será que a vida pode apenas existir da forma como a conhecemos, nas condições em que a verificamos? Não seria possível que, num universo paralelo (ou no nosso próprio) a vida não dependesse tanto do Sol, ou que essas situações propícias ao nascimento de um ser tido como vivo fossem diversas?

Tudo piora quando tomamos as abstrações, as quais se originaram do real, e que passaram a simbolizá-lo (ou idealizá-lo). Os números surgiram para definir valores de coisas; as palavras apareceram para possibilitar a comunicação entre seres humanos que desejavam dar significado às coisas; os desenhos passaram a representar a imagem das coisas.

Isso foi necessário para que o ser humano organizasse a sua vida: emprestando sentido às coisas que o cercavam, criou um universo de conceitos e ideias que permitiu a sua sobrevivência, que se deu pelo aprendizado e pela memorização. Em outras palavras, pela História.

Ok, chega. Vamos aos causos.


Causos do transporte coletivo:

I

Terminal Cabral, dia 07/10/10, 16:47h. O veículo BR400, linha Cabral/Portão, chegara momentos antes. Logo, o condutor veio até mim e explanou o seguinte:

- Viu, tô com um problema no carro ali... já tentei de tudo e não consigo prender o cinto de segurança!

Chegando até o ônibus, logo que entrei pela porta da frente, logo vi: onde deveria estar a trava que segura o pino do cinto, estava um buraco. Não havia como prender o cinto! Mandei tocar o barco, mas ferrei com a empresa... dane-se.

II

Mesmo Terminal, dia 08/10, às 15:22h. Tinha iniciado meu horário de lanche e, como de praxe, deixei o meu colega ir lanchar também enquanto continuava a fazer a conversão dos cartões de usuário para o novo sistema. Logo, chegou uma senhora e me entregou o seu para que assim o fizesse. Enquanto a maquininha realizava o procedimento, fui explicando-lhe como carregaria o cartão de agora em diante:

- Sabe aqueles carregadores? Esqueça; nunca mais vai precisar usar. Agora, quando o cartão tiver créditos disponíveis, vai carregar quando você encostá-lo em qualquer validador... ônibus, bilheteria, qualquer um. Só cuide para carregá-lo quando precisar, caso contrário ele poderá gastar uma passagem.

Ao que eu ouvi:

- Mas essa Urbs só complica com a nossa vida, como é que pode! Em fez de facilitar pra gente ficam inventando essas coisas, é só pra ferrar tudo mesmo!

Positivamente, é impossível agradar a gregos e troianos.

III

Mesmo Terminal, lá pelas 16:30h da tarde do dia 08/10, sexta-feira. Estávamos eu e meu colega conversando e trabalhando quando vimos o vigilante da Metropolitana correr até o banheiro feminino e retirar de lá uma piazada, idades entre 10 e 15 anos, suponho. Logo que saíram, perguntei ao guarda o que tinha acontecido.

- Não, eles foram tomar água no banheiro, vê se ali é lugar de tomar água!

Depois dizem que eles ainda não têm consciência do que fazem... ahan!


Pérolas cotidianas (dessas eu não lembro a data: são frases ou fatos inusitados que observei ou ouvi ao longo dos dias):

1

Eu: - Pois é, essa onda de violência anda complicada hein...
Porteiro: - É mesmo! Daqui um tempo a Urbs vai ter que fazer um coletinho balístico pra vocês usarem!

2

Falávamos de um colega que tinha aprontado alguma coisa errada no serviço, ou algo semelhante.
Aí o porteiro veio com essa: - É, desse jeito ele vai ganhar o Oscar da Urbs!

3

Conversávamos meu colega, o porteiro e eu sobre o salutar hábito que possuem os curitibocas de cerrar as janelas dos ônibus quando está frio. Aí falou o porteiro:

- Pois então, aí esse pessoal fica andando nos ônibus sem janela e reclamam depois...

Olhei pro meu colega e disse: - Sem janela.

Rimos pelo resto da tarde com isso.

4

Enquanto eu trabalhava com a alteração do sistema dos cartões, uma mulher na fila para seu filho:

- Calma que a gente vai ter que fazer a conversação do cartão!

5

Durante essa última semana, ficamos sem supervisor. Assim, juntávamos os relatórios e um de nós ia levá-los ao supervisor onde ele estivesse. Na quarta-feira, já reunidos os papéis, estranhávamos a demora da colega que ia levá-los... e o supervisor enchendo o nosso saco para que apressássemos com aquilo. Logo, ligamos para a menina:

- Daí, colega, tudo bem? Viu, onde é que você tá? Aaaaaaaaah, é mesmo, você tá de folga!!! Desculpe ligar aí viu, é que o supervisor tava atrás de você. Até mais!

Logo, meu colega ligou pro supervisor e deu conta do ocorrido. Ao final, este disse:

- Ah, ela tá de folga? Então vem você mesmo!!!!

Passou o resto da semana fazendo esse serviço.

6

Um dos nossos colegas enviou um registro de ocorrência por um dos motoristas da linha Guaraituba/Cabral. Logo, abri o envelope, li o R.O. e guardei-o. Quando o outro colega, que ia levá-la para o supervisor, chegou, dei-lhe o envelope:

- Aí está a R.O.. Mas abra o envelope e dê uma olhada.

Ele abriu e olhou o papel, e disse:

- O que tem?
- Não está faltando nada não?
- Como assim?
- Que número é o carro? Que tabela que é? E a que horas foi? Afinal, o que aconteceu????


Poema do dia:

It's The Danger

Flashes in my head
Make me wanna dance
See a world ahead
Any second chance

Lightning in my soul
Shocks me 'til the nerve
Put me right below
Any kind of verve

Need to move, but both my feet
Are planted deep in the air
A light grenade between my teeth
To be free from it, just a spit
But it's the danger - I don't care

Bullets to my body
Hit the rotten flesh
Wounds will speak loudly
Than if it were fresh

Cristiano Tulio - 05/10/2010


¹ Bíblia, livro do Eclesiastes, cap. 1, versículo 2.

domingo, 26 de setembro de 2010

Soldier

Olá, caros e poucos (porém, fiéis) leitores. Após um período deveras atribulado de minha vida, eis-me aqui novamente para discorrer sobre alguns disparates.

Religião. Eis um tema que me vem "chapando o coco" há algum tempo.

Catolicismo, espiritismo, budaísmo, protestantismo, islamismo... e outros ismos. Curioso aperceber-se de que todos eles, sejam mono ou politeístas, laboram com o imaginário situado no pós-vida (ou pós-morte, como queiram), no sobrenatural, no inexplicável. Não é à toa que são crenças.

Interessante deitar olhos aos povos antigos. Etruscos (povo, inclusive, fundador de cidades funerárias, como Volaterræ), egípcios, romanos, gregos, vikings, chineses... todos dedicavam alguma parte de sua história ao culto aos mortos e à crença em uma continuidade de existência, qualquer que fosse o nome que, a isso, davam (reencarnação, ressurreição, dentre outros).

O ser humano não suporta viver em um ambiente que não possa explicar, de alguma forma. Tampouco admite que está aqui sem qualquer razão aparente que não a geração de descendência para sobrevivência da espécie¹. Deve haver um motivo, uma missão maior, uma eternidade a ser desfrutada.

Aí entram as máximas de salvação e comportamento moral e eticamente correto. Há de se fazer o bem aos demais para que se consiga a vida eterna. Os maus queimarão no mármore do inferno.

Entretanto, ao relembrarmos a religião persa do zoroastrismo (Ahura-Mazda - bem - e Arimã - mal), bem como o ying-yang (precitado em post anterior), podemos concluir que o mal e o bem são coisas necessárias ao mundo. Um não existe sem o outro.

Imperioso que existam pessoas más, para que possamos distinguir entre os caminhos. No entanto, igualmente, preciso que sejam as pessoas más punidas; as boas, recompensadas.

Chegamos, então, às ciências humanas. O Direito, por exemplo, fundamenta-se nesses princípios de penitência e recompensa. E ainda querem dissociar jurisprudência de moral e ética.

Voltando ao tema central, como as crenças têm arrimo em coisas inexplicáveis, porém, críveis, alguns defendem que os deuses são "os senhores da lacuna".

Não creio que seja assim. Não é porque não podemos explicar as lacunas que elas estão ali. É porque estão ali que não podemos explicá-las. Algo de superior existe, sim. Físicos famosos atualmente, como Hawking, mostram que existem coisas ininteligíveis (in exempli: a velocidade de expansão do universo, que se situa num valor exato para que este não imploda sobre si mesmo). Até porque, considerando-se a singularidade do big-bang, cuja anterioridade temporal é tida como inexistente, não há como explicar precisamente de onde viemos. A pergunta sempre remete a algo maior, do tipo "quem criou a bola de fogo do big-bang?".

Estranho, para mim, é que centralizemos as questões de crença em nós mesmos, e não naquilo que não podemos explicar.

"I know things change
But you're living like a soldier
Who's caught in the fray
Don't lose your faith
It's not so cold, it's not too late"


Histórias do transporte coletivo:

I

Terça-feira, 21/09/10, 14:53h, Term. Alm. Tamandaré. O veículo 16R43, da linha Tamandaré/Cabral, demorava a se apresentar. Cinco, dez, quinze, vinte minutos e nada. Logo, com o veículo posterior, veio a notícia: o carro havia sido assaltado.
Mais além, no Terminal Cachoeira, encontrei com o cobrador e o motorista do respectivo coletivo. Contaram-me, então, que os assaltantes apareceram à mão limpa para fazer um "pente fino". Conseguiram levar 35 reais, mas apanharam como nunca dos operadores e de alguns passageiros. Decididamente, o crime não compensa.

II

Term. Sta Felicidade, dia 26/09/10, 18:32h. O motorista da linha Interbairros IV, veículo GR123, estaciona e espera os passageiros subirem, ao mesmo tempo que o carro MC070 da linha Sta. Felicidade aporta no referido local. Um passageiro dirige-se apressadamente em direção ao "Goiabão" para nele embarcar. O condutor deste fecha as portas e ameaça sair, no que o usuário em potencial acena para que ele espere e abra as portas. Então, o motorista simplesmente vira o rosto e ignora o usuário em questão, arrancando.
Adivinhem quem era o passageiro?
Essa olhada de lado vai custar uns 30 reais, pelo menos.


Poema do dia:

Senhas

Vais aonde queres
Mas não vais comigo
Tens a quem procuras
Mas não tens a mim
Como todas as mulheres
Nunca te sacias
Pois teu mal seu cura
É não chegar ao teu fim

Ganhas o que pedes
Menos o que eu tenho
Visto que desdenhas
O que morres por obter
Sobes pelas paredes
Em teu silêncio ferrenho
Que tudo diz em senhas
Nesse jogo de esconder

Tranca-te na cadeia
E, então, engole a chave
Pra depois te arrependeres

O amor corre nas veias
Canta alto, em dó a clave
De quem nega os seus haveres

Cristiano Tulio - 05/09/2010


1 - "Memento homo quia pulvis et et in pulverem reverteris" (Lembra-te, homem, que do pó vieste e ao pó retornarás).

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Only In Your Heart

Tenho lido, ao longo da vida, muita coisa no sentido de que a existência serve para ser desfrutada intensa e presentemente, sem que haja preocupação com o que está por vir.

Aí vêm aqueles argumentos do tipo "eu posso morrer amanhã, por isso fumo"; "fico bêbado constantemente porque é assim que se aproveita a vida"; "corro que nem louco com o carro porque é emocionante, dá adrenalina", e etc..

Pois bem... é um dos maiores disaparates que eu já li/vi/ouvi.

Claro, avancemos por partes (Jack, a serra, por favor!).

Não é que, volta e meia, não se possa sair da rotina... que isso te impeça de fazer algo legal ou radical e, mesmo, arriscado. Eu mesmo confesso que tenho "pé de chumbo" ao dirigir e que gosto de tomar meus porres de vez em quando.

Entretanto...

Tudo é equilíbrio (vide idéia oriental do Ying-Yang). Os extremos podem até ser aproximados, porém, nunca alcançados. É como um limite aritmético: tende a determinado valor, mas nunca chega a ele plenamente. Princípios químicos: caso o máximo da adrenalina, exempli gratia, seja atingido, o corpo entrará em colapso por conta do excesso dessa substância no sangue. Isso sem contar com outras metáforas que eu posso fazer aqui.

Não se pode ignorar que o "negativo" está presente no "positivo". Afinal, um não existe sem o outro, o que nos leva admitir que os excessos são plenamente compreensíveis. O que não podem e ser tais e de tal constância que terminem por minar a vida do indivíduo.

Não obstante, há outro fator a ser levado em consideração, o qual reside na pergunta: "e se eu não morrer amanhã?"

É, caro leitor. Pode ser que você viva 70, 80, 90 anos. Como não pensar no amanhã quando a nossa "centelha divina" subsiste por cada vez mais tempo¹?

Eu, particularmente, gostaria de viver por apenas quarenta, cinquenta anos, no máximo. Contudo, não posso ignorar de que posso ir mais longe.

O negócio é aproveitar. Exceder um pouco onde for possível, flexibilizar, estender limites... não ultrapassá-los num caminho sem volta.

Isso se aplica também aos relacionamentos. As pessoas envelhecem, perdem a vitalidade, a beleza. Os homens ficam flácidos, mulheres tornam-se frígidas. Sobram apenas a comunicação e o conviver, que andam muito em baixa hoje. Lembro-me sempre daquele velho adágio: "case-se com alguém com quem goste de conversar".

Obviamente, não é bom que nos atenhamos ao excesso de precaução. Viver é um risco e a única certeza é a morte (é cliché, eu sei, mas é verdade). Tomo aí uma parte do sermão da missa de Domingo: aqueles que procuram guardar tudo para si e viver com um cuidado extremo, pensando apenas no amanhã, podem morrer sem usufruir do que acumularam².

"You can disregard your friends
But life gets so hard
When you reach the end"

Poderia discorrer sobre isso por muito tempo... acho que já está bom.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 04/08/2010, 18:23h da tarde. Linha Tamandaré/Cabral, veículo 16R34. Voltava para pegar o carro no Cabral e ir para casa ali no banco da frente, conversando com o motorista e o cobrador. Chegando na esquina da Av. Anita Garibaldi com a R. Eçá de Queiroz, o sinal abre e alguns veículos querem entrar à esquerda, trancando o ônibus. Logo que o último carro faz a conversão, o motorista se prepara para arrancar e acelera bem na hora em que o sinal se torna amarelo e, depois, vermelho. Conformado, o condutor me vem com essa:

- Não queria passar mesmo!

II

Dia 17/08/10, Terminal Cabral, 15:30h. Eu e meu colega Lucas estávamos saindo do horário de lanche, voltando ao suado e exigente trabalho a que servimos. Eis que, num rompante de entusiasmo, ele diz:

- Faz tempo que não vou passear daquele lado (o que eu estava controlando). Vamos lá dar uma volta.

Belo passeio... mal atravessamos a canaleta que divide o terminal, o biarticulado GD350, linha Sta. Cândida/C. Raso, sentido Sta. Cândida, trava na plataforma com a rampa da porta 5 emperrada. 10 minutos de tentativas para subir a rampa e nada. Tivemos de retirá-lo dali com a rampa baixa mesmo e recolhê-lo em seguida.

III

Mesmo Cabral, às 17:20h, mais ou menos. Uma mulher e sua filha chegam-se a nós desesperadas pedindo auxílio para que localizemos sua filha, que fugiu de casa. Súbito, a menina aparece no terminal, andando de bicicleta, lépida e faceira. Mãe e filha vão conversar com ela, o que acontece por uns 5 minutos... logo após, a infanta "foge" novamente.
A mãe disse que não poderia levá-la à força (!). Sugeri ligar para o FAS, ela disse que eles a tirariam de casa (!!). Sugeri então a polícia, a mãe objetou afirmando que eles estuprariam sua pequena (!?).
Logo, a menina voltou. Mais alguns minutos de conversa e a menor disse que voltaria para casa de bicicleta mesmo. Perguntei onde moravam: Colombo. Ia chegar em casa 18:30h pelo menos.
Depois disso, desisti.


Poema do dia:

See It Soon

Think about it, but don't react
To the absurd stuff you see at the facts
Dream about me, but don't believe
That I'm gonna stay when you leave
That I'm gonna obey to the order you give

Oh, no, there's nothing you can do
When the distrust enters the room
You've gotta see it soon

Plan about this, it won't work out
With the distorced view at all the faults
Breathe out and in, but don't confide
That you're gonna live when I die
That you will not need what I provided

Oh, no, there's nothing you can do
When the flower of lie is in bloom
You're gonna see it soon

Simple, as you see
Hard to explain
'Cause you and me
Won't be back again
Won't be here again
Won't be one again

Cristiano Tulio - 02/08/2010


1 - "Utilizamo-nos de máquinas ao invés de fazê-lo com nossos corpos e então, quando estes últimos nos falham, as primeiras nos mantêm vivos. Quando não sentimos a vida, não sabemos o que é estar vivo". (Bernard Sumner, capa do CD "Raise The Pressure").

2 - Então Jesus contou a seguinte parábola: - As terras de um homem rico deram uma grande colheita. Então ele começou a pensar: “Eu não tenho lugar para guardar toda esta colheita. O que é que vou fazer? Ah! Já sei! - disse para si mesmo. - Vou derrubar os meus depósitos de cereais e construir outros maiores ainda. Neles guardarei todas as minhas colheitas junto com tudo o que tenho. Então direi a mim mesmo: ‘Homem feliz! Você tem tudo de bom que precisa para muitos anos. Agora descanse, coma, beba e alegre-se.’ ” Mas Deus lhe disse: “Seu tolo! Esta noite você vai morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?" (Bíblia, Evangelho de Lucas, 12, 13-21).

sexta-feira, 30 de julho de 2010

The Sign

A mudança de setor fez-me um bem muito maior do que esperava. Além de proporcionar-me uma maior tranquilidade e ser mais vantajosa em vários sentidos, deu-me mais tempo ainda para pensar e construir idéias sobre as coisas que ouço, vejo e sinto.

Isso porque passei a laborar em ambientes, não muito... hum, digamos... seguros. Barreirinha, Maracanã e Guaraituba são terminais um tanto temidos pelas tantas desgraças que volta e meia lá acontecem.

Esse tipo de lugares, além daqueles pelos quais circulo diariamente, aliados à expansão da violência urbana, me levaram a engendrar, já há algum tempo, a idéia (tanto óbvia) de que o aumento da criminalidade está diretamente associado à proliferação das pichações.

Não apenas porque, sem dúvida, a pichação seja um crime, por caracterizar-se como a destruição/descaracterização de um patrimônio (ainda que meu ex-professor de Direito Penal afirmasse - caduca e veementemente - que não). Ainda, porquanto se presta a demarcar o território dos infratores e a deixar mensagens de desafio entre facções rivais.

Mesmo que muitos pichadores defendam que seus "desenhos" são meramente uma obra de arte, isso demonstra estar muito longe da verdade se observarmos alguns fatores. As pichações sempre levam uma assinatura e, com ela, uma mensagem: "eu mando aqui, essa área é minha, você vai se ferrar se aparecer por essas bandas". Assim como uma frase que eu vi num muro do Terminal Maracanã hoje, que dizia mais ou menos assim: "Vocês só picham na vila, aqui vocês não vêm".

Como corolário lógico disso, os lugares mais abandonados são os mais pichados, visto que, claramente, são os deveras disputados pelos comandos criminosos. E, à medida que a violência avança em determinado bairro, mais as pichações se espalham. Basta ver em bairros recentemente assombrados com tal problema... nos terminais de ônibus desses lugares... entre outros.

Isso era o que deveria pautar as ações policiais. Aqueles que sabem interpretar esses símbolos poderiam colaborar... enfim. É uma espécie de mapa da mina enterrado na areia da praia.

"I saw the sign
And it opened up my eyes
I saw the sign"

Chega de viagem na maionese.


Hora dos "causos" do transporte coletivo:

I

Terminal do Barreirinha, dia 19/07/10, lá pelas 14:00h. Primeira vez que eu trabalho nesse lugar. Nunca os tubos tinham sido lavados durante a tarde. Pois bem, nesse dia, eles foram. Dá-lhe embarcar neguinho pela porta de emergência, desviar ônibus, aguentar gente reclamando e, ao mesmo tempo, resolver problemas e anotar todos os números dos ônibus em operação. Inveje-me, Superman!
No mesmo dia, logo que um veículo entrou no Terminal, o motorista me chamou. Contou-me que a pessoa subiu no ponto inicial e foi até ali, descobrindo apenas ALI (claro!) que estava sem dinheiro ou seu cartão estava zerado...

II

...mal sabia eu que isso iria se repetir durante quase o RESTO da semana. Terça, quinta e sexta, pelo menos uma vez por dia. Mandei voltar quase todo mundo.

III

Isso fora os corridões que os cachorros se davam uns aos outros em certas horas do dia. Fora o menino deficiente mental que queria que eu ferrasse com todos os motoristas. Fora a Letícia vindo me visitar e incorrendo naquelas conversas cheias de ironia, como sempre, além de levar a irmãzinha dela, que ficava me cobrando o meu serviço.

IV

Terminal Maracanã, terça-feira, 30/07/10, 16:05h. Estava eu a cuidar dos Colombo/CIC, alguns dos quais atrasados, quando observo o 18R43, linha Cabral/Guaraituba, parado, e outro (cujo número me escapa) atrás dele. Pensei comigo que já estavam "comboiados".
Uns 10 minutos depois, um dos porteiros vem me contar, pura e simplesmente, que o motorista havia discutido com um passageiro. Logo após, um oficial da guarda municipal de Colombo vem me chamar para que eu acompanhe a situação.
Chegando lá, conversei com o passageiro e, logo após, com o condutor. Resumo da ópera: o usuário foi tentar subir no ônibus lotado e acabou prendendo seu pé na porta. Foi reclamar com o condutor; ambos discutiram e, sabe-se lá porque, o motorista pegou um martelo de bater pneus e atingiu o rosto do passageiro. Diz este que foi do nada (ahan, sei!), diz aquele que este foi agredi-lo antes (parece mais plausível). Resultado: ônibus parado por uma hora e catorze minutos, ambos encaminhados para a delegacia pela PM, rendição dos operadores, viagem cortada, reinício lá no Guaraituba às 17:44h. Coisinha de nada!

V

Dia 28/07, quarta, 12:53h, veículo HL107, linha Colombo/CIC. Pegava carona com ele para ir até o Terminal do Maracanã e ia conversando com o motorista quando, ao trafegarmos pela Av. Pref. Erasto Gaertner, pouco depois do 27º BLOG, um Uno Mille que trafegava pela faixa da esquerda, a uns 100 m de nós, resolve dar a vez a outro que estava querendo entrar em sua frente, freando do nada e sem dar qualquer sinal de pisca-alerta. O motorista percebeu, segurou um pouco no freio e depois pisou com tudo... veio todo mundo para frente e eu falei "vai bater, segure o freio!"
Faltaram 5 cm para a cagada. Foi por muita sorte, milagre, ou a que quiser que seja de sobrenatural.

VI

Melhor sorte não assistiu ao motorista do 18L48, também da linha Colombo/CIC. Às 17:11h do mesmo dia supracitado, chegou vomitado e teve de lavar o carro ligeiro. Hoje, vim com ele. Na viagem seguinte, "abriram a marmita" de novo e teve de sair com itinerário "recolhe" para lavar no posto mais próximo. Na próxima, um carro raspou-lhe toda a lateral. Esse sim teve um dia bom!


Poema do dia:

Dom Quixote

Voar em meio à lama
Sorrir ante os problemas
São coisas de quem ama
Seguir os prontos lemas

Deixar-se ao Deus dará
Dando-se só ao que deixam
Cair da mesa farta
Aqueles que se queixam

Pois quem cedo desiste
E logo é conformado
Faz-se feliz, se triste
Satisfeito, se esfaimado

Quem vence é quem persiste
Com vontade e equilíbrio
E não meramente insiste
Sem óculos, no colírio

Cristiano Tulio - 28/07/2010

domingo, 11 de julho de 2010

Space And Time

Nesses últimos tempos, muitas coisas têm sido objeto de reflexão para mim. Algumas mais difíceis de vencer, como os dois derradeiros posts; outras, objeto de teorias sobre as coisas ou pessoas.

Pensava eu, há uns dias atrás, sobre como se deu a evolução da sociedade através dos tempos. E, assim como Fustel de Coulanges centralizou a sua idéia sobre a cultura funerária, por assim dizer, concluí, num primeiro momento, que a organização social se deveu, em grande parte, a um fator: a covardia.

Nos primórdios, os homens caçavam e pescavam, como se sabe. Aqueles que tinham maior porte físico, em geral, saíam-se melhor do que os demais... e, também, podiam adquirir, mediante coerção, o que os semelhantes conseguiam.

Dado isso, a solução foi a organização em hordas, chefiadas por um líder, geralmente o mais forte. Entretanto, tais grupos passaram a saquear outros grupos... o que exigiu a criação de exércitos. Isso ensejou a vinda dos reinos, Estados e afins.

Em outras palavras, e falando bem rasamente: a concepção de mecanismos de controle e organização sempre foi destinada a frear o excesso dos mais fortes, de uma ou outra forma. Assim, serve para desencorajar a covardia.

Por outro lado, curioso perceber que uma eventual subversão desses sistemas - que, de inibidores de atos opressores, passaram eles mesmos a servir de instrumento para iguais injustiças, mormente nos tempos atuais - é tida como um ato de coragem, pois o que servia para afastar a injustiça, num primeiro momento, agora se presta a facilitá-la, dependendo do uso que disso se faz.

"There ain't no real true
There ain't no real lie
Keep on pushing cos I know it's there"

Acho que vou escrever um livro. Não vai vender qualquer exemplar, mas uma viagem como essa não perde para muitas das coisas que já vi nas prateleiras de algumas livrarias.

Causos do transporte coletivo:

I

Primeiro dia na nova função. Terminal do Boa Vista, 04/07/10, lá pelas 16:30h. Concentro-me em fazer nada, pois o lugar em questão é praticamente morto aos Domingos. Lá pelas tantas, ouço um piá relatando para um grupo de outros moleques uma cantada que tinha passado:

- Não, cheguei na "mina" e perguintei pra ela: "você tá vendendo bala?" Aí ela disse: "não, por quê?" e eu "e esse pacotinho aê?"

Mal sabia eu que as coisas podiam piorar...

II

...porém, sempre podem. Na Segunda, 05/07, no mesmo Terminal, às 17:56h, um biarticulado Sta. Cândida/C. Raso (não me lembro o prefixo, só sei que era BDxxx) fica com a porta 5 travada por alguns minutos. Logo destravou e saiu do lugar, para meu alívio...

III

...que não durou muito. Terça, 06/07, ainda lá, às 17:58h, o biarticulado VD984, da linha Sta. Cândida/C. Raso, apresentou problemas na caixa de câmbio e simplesmente travou na plataforma. Ótimo horário para tanto, visto que já havia outros três atrás dele. Resultado: desvios pela contramão e por fora do Terminal, embarques pela porta de emergência, pessoas perdidas... depois de longos e tenebrosos 20 minutos, o ônibus conseguiu sair dali, o que causou o meu atraso para o futebol das 19h.

IV

Mas a semana ainda não estava completa. Quarta, 07/07, às 17:12h, a luz caiu em metade da cidade. As catracas pararam de funcionar e, de novo, problemas para resolver. Pensava se até o final de semana as profecias de Nostradamus se concretizariam...

V

Até que veio a Quinta, 08/07. Uma mulher exigiu de mim que tomasse alguma providência quanto aos cachorros que habitam no Terminal, visto que eles tencionam morder os transeuntes. Claro, vou adotá-los e levá-los para casa só por que ela quer... afinal, eu sou um tanto altruísta.

VI

Por fim, hoje, já saindo do serviço no Terminal Sta. Cândida, lá pelas 18:40h, enquanto passageiro do veículo BA139, linha Sta. Felicidade/Sta. Cândida (carinhosamente conhecida como "Santa-Santa", dada a sua curtíssima extensão), um "mano" meio cuzido/chapado entrou pela porta dos fundos do carro ali na altura de Alm. Tamandaré. O cobrador logo viu e tratou de avisar o motorista, que, após andar um pouco, parou. O cobrador então dirigiu-se ao elemento e pediu que ele colaborasse. Aí resolvi intervir. Fui até o invasor e travamos o seguinte diálogo.

- Ei cara, 'bora pagar a passagem lá.
- Tá falando comigo?
- U-hum.
- Tá, então já vou te pagar.

E, ficou de pé na minha frente, de costas para mim. Começou a mexer no bolso perto da cintura, e eu, que nada via, já achei que ia levar um balaço na testa ou algo assim. Segundos de tensão até que ele, singelamente, sacou da algibeira uma moeda de um real e ma deu. Logo falei:

- Agora passar lá pela frente.
- Tão tá bom.

Passou e, como eu agradecesse a atitude, até se desculpou com um "foi mal". Belo desfecho para quem imaginou não chegar ao final da viagem vivo... morra de inveja, Indiana Jones!


Poema do dia:

Sem Saber Muito Mais

E quando a chuva todo me molhar
Eu vou sentir em mim o Sol arder
Pois quando o frio intenso aparecer
É que fará a extensa luz brilhar

Pois, o que ouço, nem vou apreciar
Quando o que eu digo é que faz valer
Os dias, tardes, qual o anoitecer
Não vão além do que eu acreditar

Forma de ver
De interpretar
O que você
Pode tentar
O amanhã vem sem saber muito mais

Do que não sei
Resta esperar
O astro-rei
Se levantar
Trazendo a guerra pela nossa paz

E se o relógio, logo mais, parar
Trará a muitos toda a perdição
De não poder fingir toda a razão
Que imaginamos poder controlar

Pois, o que vejo, nem vou tencionar
Ter como o verdadeiro do que vai
Sem ter limite ou retornar jamais
Do que a minha imaginação criar

Cristiano Tulio - 11/07/2010

domingo, 27 de junho de 2010

Maybe, Maybe

Há dias em que nada dá certo... ou, se não dá errado, dá em nada.

"Plans that either come to naught
Or half a page of scribbled lines" canta Roger Waters.

Às vezes, você começa a pensar sobre a vida que (te) leva, sozinho ou escutando dizeres de outras pessoas, ouvindo músicas, analisando situações... aí, surgem teorias do caos explicando o inexplicável; conspirações envolvendo sociedades e interesses secretos, poder, dinheiro; o destino ou o acaso; os desígnios divinos...

Nada disso parece satisfazer o espírito ou o coração quando tudo desanda. Fácil esmorecer nesses momentos.

É custoso acreditar no que (não) acontece. Pensar que tudo se encaminha para um fim quando, em verdade, o final da trilha se faz outro. Agir e acreditar em coisas que, talvez, não tenham nenhum lugar na realidade. Dar o melhor de si e esperar dos outros o que eles não podem ou não querem ceder.

Acaba se tornando insano continuar... mas já entoava a banda Cake:

"But you still don't like to leave before the end of the movie"

Mesmo assim, inevitável questionar: "where did it all go wrong?". Eu mesmo sempre costumo dizer que é fase, que tudo passa... contudo, parece que alguns possuem estrelas que lhes guiam; outros, buracos negros que lhes sugam a energia.

Por outro lado, considerando que os buracos negros emitem certa quantidade de matéria/energia (vide Stephen Hawking), não é simples determinar o que é melhor. Reviravoltas, surpresas, assim é a existência. Sem constância, com substância, porém, em diversas ocasiões, ocultando ou deixando faltar um objetivo maior que nos tire a impressão passada por esse refrão do Oasis:

"Here am I, going nowhere on a train
Here am I, getting older in the rain"

Por que raios tenho de ter tantas dúvidas?


Poema do dia:

Ocean Blue

All I might discover
To keep on alive
Is where is the power
To be on cloud nine
Life is hard, but never
Lets you all apart
So we're here together
Trying really hard

Driven by a dream
From somebody else
Things I'd never seen
Happen here as well
As my eyes can't see
Nothing but the light
Just wanna be free
If black of if white

Any angle comes to show
Where the river flows to
Sailing nowhere, I just go
Looking for the ocean blue

Tools to help me get
What I need to die
Newer than I should
Older than I'd like
But the bliss is there
Waiting for the meet
Of the ones who care
'Bout other's heartbeat

Cristiano Tulio - 27/06/2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Runaway

Sinto-me cansado... com tanta coisa para fazer... nem tenho tido muito ânimo para postar aqui. Problemas, problemas... briga daqui, conversa de lá, planeja acolá, e vai por aí.

A vida é curiosa... num momento, tudo parece em paz, sob controle. Num repente, um furacão se instala, e nada mais está em seu lugar. Ou, se está, não é mais a mesma coisa, ou do jeito que era antes.

É o que dá graça na existência. É, também, o que provoca a desgraça da existência. Conflitos provocados pelas atitudes egoísticas do ser humano... em verdade, de qualquer ser: a sobrevivência por si só ocasiona choques. Vegetais e seus parasitas, animais e seus predadores...

Difícil é não esmorecer quando as questões se tornam imensas, ou parecem (e, às vezes, se tornam) invencíveis, material ou psicologicamente. Costuma acontecer quando tudo parece vir numa enxurrada, com a força dos sete mares, enquanto você se encontra num beco sem saída. Às vezes, conseguimos nadar; noutras, desmaiamos, mas algo ou alguém nos salva; em terceiras... bem, nem sempre é possível ganhar na vida; que o seja na morte.

"In the desert fields
A fever so high
Makes me wanna shout...
Sahara nights"

A vontade é de correr... para longe, para lugar algum, para nunca mais, para sempre.


Causos do transporte coletivo:

I

31/05/10, 15:42h, Terminal da CIC. Lá, conheci o mais novo veículo de testes do transporte coletivo: o XY020, da Redentor, um ligeirinho que foi colocado para fazer a linha CIC/Colombo no lugar daquele HL098 que visitou a Pernambucanas. Semanas depois, já havia queixa de que esse carro vive atrasado...

II

16:42h, no mesmo dia 31/05, itinerário da linha Interbairros V, veículo JR102. Ia eu até o Terminal do Portão quando avistei, pelo caminho, enquanto pensava na janta, a Panificadora Bão Pão. Perdi a fome.

III

No dia seguinte, 01/06, às 16:52h, enquanto passageiro do 20R30, linha Colombo/São José em direção ao Terminal Maracanã pela R. Abel Scuissiato, distingui uma oficina de automóveis de peculiar nome: Agora Vai. Fiquei imaginando o mecânico consertando um carro e tentando fazê-lo funcionar... acho que nunca pisaria ali.
Contudo, as coisas sempre podem piorar... logo após, uma loja de roupas exibia, orgulhosamente, um cartaz onde se lia: tecidos de vitrini. Vitrini, biquine... o português agradece.

IV

Calma, ainda não terminei! 15:27h, itinerário da linha Capão Raso/Caiuá, carro JA021. Passava perto da Escola Mun. Pró-Morar Barigui quando deparei-me com o point da localidade: Sorveteria Quatro Estação! Como pensaria Garfield, o amável e sutil gato de Jim Davis, "aaaaaaaaaaaarggggggggghhhhhhh"!

V

Dia 09/06, 17:11, Terminal do Bairro Alto. Observava o movimento dentro do AB020, Interbairros III, quando notei que uma gatinha morena, cabelos longos, vestindo a camisa da Argentina, subiu a bordo do CN400, linha Paraíso (imaginem todas as implicações possíveis nessas circunstâncias!).
Como eu queria que essa linha não possuísse ponto final...

VI

Lembram do português? Ele voltou! Logo após sair do terminal acima referido, próximo da Av. Victor F. do Amaral, vi surgir a Churrascaria Borel e seu empolgante lema: "eh aki ke nois xurraskeia". Vamux lah, miguxu?

VII

Pra terminar, 13:00h em ponto, dia 17/06, Pç. Eufrásio Correia. Mal chego para iniciar o trabalho quando, descendo do veículo base, escuto uma menina de uns 14 ou 15 anos, trajando uniforme do Colégio Acesso, dizer: "Eu amo minha mãe! Ela me deu um casaco novo!"
Imagine se odiasse!


Poema do dia:

Sever

Shone, tons of ash
That once brighted when it was coat
Gone, years of bash
That now we just practically forgot

Flown by the homes
That once we lived in when so alone
Grown at the roads
That now we say we've never known

Cloudy days can come
But they are not forever
Foggy mornings make us try to see
Rainy hours will fall
But we will need to sever
What was from what still can be

Oh no, it is too late
To start again
So let's change the fate
And just begin
A brand new thing
Just banishing the pain
Abandoning what is in vain

Cristiano Tulio - 14/06/2010

sábado, 12 de junho de 2010

Onibusfobia

Bem... não era exatamente sobre o que eu pensara escrever por esses dias... porém, como muitas pessoas têm me perguntado sobre o acidente de ônibus ocorrido na última quinta-feira, achei útil expressar algumas informações ou opiniões sobre o ocorrido.

Em tempo, para quem ainda não sabe (o que eu acho difícil): dia 10/06/10, às 11:30h aproximadamente, um ligeirinho da linha Colombo/CIC, prefixo HL098, desceu a curva da Pç. Tiradentes desgovernado e arrastou tudo o que encontrou pelo caminho, atingindo dois carros, furando o sinal vermelho, passando reto na curva que dá acesso à Tv. Tobias de Macedo e quase entrando em uma unidade das Lojas Pernambucanas. Duas mortes e trintas pessoas feridas são os números lamentáveis da tragédia.

Muitos já me questionaram o que teria acontecido de fato com o coletivo.

Fazendo algumas pesquisas, descobri que o carro em questão era um Caio Apache Vip, provavelmente ano 2002, chassi Volvo B7R Urbano, semelhante a esse.

Segundo o que pude averigüar, os modelos Volvo B7R possuem sistema de freios EBS-5, controlados por meios eletrônicos, que incluem ABS, regulagem de pressão e frenagem nos discos. Em outras palavras: o sistema de freios do ônibus, como o dos outros em geral, é a ar.

Alguns passageiros do sinistrado disseram ter ouvido um grande estalo... isso pode denotar algum rompimento em alguma parte importante do sistema: barra de direção, algum dos componentes do sistema a ar e mesmo pane nos sistemas eletrônicos.

No site da RPC, especialistas afirmam que pode ter havido falha humana. Não ouso discordar deles; entretanto, não creio que ela tenha sido o fator determinante do desastre. Num primeiro momento, o veículo acertou um táxi, percorreu mais 30 metros e acertou outro carro, e percorreu mais 20 metros até parar na calçada. Acredito que, se fosse alguma imprudência do condutor, esta teria cessado logo após a batida no táxi ou, no máximo, no segundo carro.

Interessante ver uma reportagem no exato momento em que o linha direta desgovernado passa pela curva da Pç. Tiradentes:

Não é difícil de reparar que o ônibus já vinha sem controle: faz a curva de uma forma torta, esquisita e rápido demais. Contudo, nem tão rápido que não pudesse parar se frenado (estimaria a velocidade dele em 40 a 50 km/h; com um peso de 16 ton, o ônibus pararia, em meu ver, a tempo de evitar o choque com o segundo carro - 30 m). Cansei de ver ônibus nessas velocidades pararem em espaços até menores.

Tudo bem que a fama de pés-de-chumbo dos operadores de ligeirinho é grande... mas não consigo acreditar que a culpa tenha sido do motorista. Se houve, é mínima. Acho mais provável uma pane no sistema de ar... ainda mais porque não se sabe se o veículo tinha sistema de frenagem reserva.

É o que eu acho. Pode ser que eu esteja redondamente enganado, claro. Negócio é ver os laudos depois.

Após isso, permito-me discorrer sobre alguns pensamentos:

Impressionante ver como as desgraças... ou as glórias... enfim, os grandes eventos costumam marcar e assombrar as pessoas. Tornam-se assuntos falados, discutidos, opinados, dissecados. Convertem-se, ainda, em pontos da História de um povo, seja qual for a amplitude desse conceito.

Cuidados são tomados; mudanças, planejadas; a atenção e a prevenção surgem em seu estado máximo. Todavia, passado certo lapso temporal, tudo retorna ao normal, até que outro grande acontecimento tenha lugar.

É a máxima do tempo cíclico: em certos intervalos, alguma coisa importante acontece para causar alterações. Porém, na maior parte dos dias, tudo transcorre de maneira corriqueira. Embora os acontecimentos sejam diversos, os significados a eles atribuídos são semelhantes, de forma a agrupá-los e classificá-los de acordo com sua influência na vida das pessoas que por ele foram atingidas.

Ademais, tais fatos ocasionam um aumento da tensão e da atenção do ser humano, estados incomuns que não são mantidos por muito tempo. Logo o cotidiano toma conta de novo.

Por isso que há a ilusão de acontecimentos totalmente novos. Alguma novidade há. Por outro lado, não deixam de ser eventos explicáveis por alguma experiência passada, encaixáveis em alguma modalidade de marco pré-estabelecida. Em outras palavras: já vividos de alguma forma por alguém.

Em outro ponto de vista: às vezes, é preciso que grandes coisas ocorram para que alterações nercessárias sejam efetuadas. O aprendizado reflete nisso porque a memória do homem é pouco poderosa e, este, teimoso. Erra até se ferrar com o equívoco. É um mal preciso, um bem canhestro. Do sentimental ao científico, o empírico sempre é mais eficiente... mas não é único (a intuição, que anda em baixa, volta e meia é ótima companheira na prevenção de infortúnios).

"Read what you say and what you bought
And there ain't no magic pen to get back what you lost"


Escrevi demais; duvido que alguém leia tudo. Poema do dia:

Pelo Mundo

Quando te vais
Os barcos se escondem
Ancoram no cais
Tementes do mar
De seus horizontes
Sem limiar

Navegar indeciso
Viver impreciso
Enquanto precisares

Cristiano Tulio - 01/06/2010


*Fontes do post - informações sobre o ônibus e o acidente:

1) http://www.onibusdecuritiba.com.br/galeria/details.php?image_id=611
2) http://www.caio.com.br/produtos/urbano/apachevip.php?lg=P&idm=17#t
3) http://www.volvobuses.com/bus/brazil/pt-br/onibus/urbanos/b7r+urbano/pages/b7r+urbano.aspx
4) http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1013020&tit=Corpos-das-vitimas-de-acidente-de-onibus-sao-enterrados-em-Curitiba

sábado, 5 de junho de 2010

Bem Vindo Ao Mundo Adulto

A vida corre; o relógio é impiedoso. Tudo de forma cíclica, por mais que a História nos traga a ilusão de acontecimentos únicos e marcantes.

Entretanto, às vezes, alguns fatos acabam sendo interessantes, de um ponto de vista pessoal. Assim foi o show do Biquini Cavadão a que assisti, no dia 02/06, uma quarta-feira de noite parcialmente nublada, em Curitiba.

E lá vamos nós de novo. Dessa vez a viagem foi mais curta: de casa para a Av. Água Verde, 66, onde fica o Momentai. Nunca tinha ido ao lugar, que é típico pra baladas: fechado e não muito espaçoso.

Os aventureiros da vez seriam o Ivan, o Luciano, a Islayne, a Kelly e eu. Eles queriam sair bem cedo (lá pelas 21:15h) e eu já queria ir mais tarde. Afinal, baladas começam tarde e terminam cedo. Porém, fui voto vencido e lá fomos nós.

Chegamos umas 21:30h. Adivinhem? O local ainda estava fechado, óbvio!!! Alguns minutos depois, pedi meu ingresso e descobri (porque ninguém tratou de me lembrar) que precisava da carteirinha de estudante para entrar, visto que era meia (sim, eu vou ao cinema todo dia; logo, devia estar com ela... que rico eu sou!). Nada que um quilo de alimento não resolvesse...

Depois de caminharmos pelo menos 1 km, achamos o Extra ali por perto. Comprei 1 kg de feijão (que é o que todo mundo compra nesses eventos) e voltamos para o lugar... uns 10 minutos antes do horário de abertura das portas...

...ou melhor: que seria de abertura das portas. Já havia uma fila, mas o acesso começou apenas às 22:45h mais ou menos. E já ali, pelo menos para nós, começou o espetáculo: o show tinha classificação apenas para maiores de 18 anos; o Ivan (que é menor), leu no Disk Ingressos que era de 16 para cima. O infante é barrado pelo segurança e não houve jeito: NÃO ENTRA. O menor, desconsolado, dirige-se de volta ao carro e nós entramos para ver o .

Diria que quase foi um xô, mesmo. A apresentação, que pensávamos começar às 22:30h, começou 01:15h. Nesse meio tempo, os "tuches" e a agitação quase fizeram a Islayne... dormir (há quem fique com sono nas mais estranhas circunstâncias!).

Por fim, entraram os caras! Fizeram de tudo: tocaram covers, agitaram a galera, tocaram sucessos, músicas novas... o Bruno desceu no meio da galera e trouxe uma fã (gata, porém, desafinada) para brindar-nos com sua voz de taquara rachada. A mina fez de tudo: tocou meia lua, tentou agitar a galera também. Não deu muito certo; Biquini fez bem melhor... :P

Durante o show, tinha um fã exaltado da banda que insistia em ficar pulando e se contorcendo na minha frente... tudo bem ser fã, mas de fã a viado a distância vai longe! Umas belas cotoveladas deram jeito no folgazão.

No todo, outro show alucinante... a banda sabe entreter e tem músicas e letras boas como nenhuma (eu disse NENHUMA) banda formada após 2000 consegue fazer. Rock é isso; o resto é EMO!

Tudo teve fim às 3 horas da manhã, mais ou menos. Ainda comprei o CD novo do grupo por míseros 6 (é, meia dúzia) reais. Realmente, uma exibição para ser guardada na memória! :)

Agora, um momento de reflexão:

Quando digo que bandas recentemente lançadas na e pela mídia são ruins, não é ser retrógrado ou não admitir que existam algumas boas... Keane é um grupo mainstream bastante respeitável, com canções das quais consigo lembrar mesmo depois de ANOS ouvindo outras coisas.

Onde quero chegar? Explico.

As bandas novas (Franz Ferdinand, Paramore, MGMT, essas coisas) fazem músicas que, embora agitadas, são fortes em apenas alguns pontos: se a música é boa, a letra é ruim, ou vice-versa. Assim, o meio musical vem se tornando, como quase tudo hoje, um produto de consumo imediato, descartável, intermitente. In exempli? Quem se lembra de Outkast, uma banda que fez muito sucesso com a canção Hey Ya pelos idos de 2004, 2005? Tocou na MTV até estourar os tímpanos e, atualmente, pouca gente ainda escuta aquilo.

Por outro lado... mencione Another Brick In The Wall (Part II), do Pink Floyd. Díficil alguém que nunca tenha ouvido. Ou Wonderwall, do Oasis, clássico romântico dos anos 90. E The Beatles? Pegue as letras dessas canções, os sons, a harmonia, a melodia... irrepreensíveis. Essas bandas vieram de uma época em que ainda havia objetivos e engajamento em grandes ou pequenas causas. Aí vem a pergunta: pelo que lutamos hoje??? Por um individualismo fútil e ridículo, melhor expresso com palavras do que com gestos ou atos?


Poema do dia:

Veemência

Sem aço, cansaço
Do peito que tanto inspira
Expira, perspira
Ao manter o passo
No espaço de uma mentira

Sem azo, o acaso
Do mundo que está ao redor
Menor ou maior
É o nosso prazo
Não depende só do suor

Quem vem afirmar com veemência
Somente o faz para não fremir
Diante de sua própria negligência
Em não aceitar ao admitir

Sem ato, desacato
Da natureza tanto intrínseca
Única, ínfima
De movimento nato
Advindo duma idéia cínica

Cristiano Tulio - 04/06/2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

I Don't Want To Miss A Thing

A vida corre; o relógio é impiedoso. Tudo de forma cíclica, por mais que a História nos traga a ilusão de acontecimentos únicos e marcantes.

Entretanto, às vezes, alguns fatos acabam sendo interessantes, de um ponto de vista pessoal. Assim foi o show do Aerosmith a que assisti, no dia 29/05, um sábado de sol e céu limpo, em São Paulo.

Acordei umas 15 para as 6 para chegarmos (eu e meu amigo Ivan) lá às 15 para as 7. Saímos umas 8 da manhã se não me engano (e, como eu odeio acordar cedo, fiquei pensando que podia ter dormido um pouco mais). Durante o caminho, uma estrada mais tortuosa do que o caminho para o Calvário; um almoço caro e a tentativa de dormir com um ônibus apinhado de fans de rock cuzidos (não que eu não seja um deles, mas não quando eu durmo por apenas 3 horas antes de uma viagem).

Depois, a chegada em São Paulo. Quer dizer, não dava para saber exatamente onde era a cidade... nem onde estávamos. Av. Macedo Soares, Av. Pompéia... acho q caímos nessas duas ruas umas 378 vezes... sem contar a infinidade de elevados, abaixados e tantos outros caminhos que sei lá aonde levam. Enfim, 15:30h chegamos ao Estádio Palestra Itália.

Agora, achar o final da fila... quem disse? As filas se misturavam, se digladiavam por espaço ao redor do local! Levamos uns bons 20 minutos (para mais) até acharmos a nossa. Na fila, conhecemos duas mulheres curitibanas (mãe e filha) que nos ajudaram muito ao longo do show.

Às 17:30, finalmente, entramos e escolhemos nossos lugares. Uma boa visão, sem dúvida. Logo, a natureza entrou em cena e a vontade de ir ao banheiro surgiu. Quando chegamos lá, a surpresa: apenas o masculino estava aberto, o que fazia com que as gurias e os piás se revezassem no seu uso. Imagine o que não foi isso ao longo do show (e piorou, pois mulheres entravam no banheiro dos homens sem pudor, mais tarde).

Vamos na espera, decido comprar um pacote de Ruffles. Chegou o vendedor, pedi um, estendi minha nota de 20. O cara apalpa o dinheiro, apalpa, desconfia... me devolve; diz que a nota é falsa (eu, com notas falsas? Era só o que faltava!). O Ivan se oferece pra pagar... o cara pega, olha, passa o dedo... e fica desconfiado (sim, uma quadrilha de falsários curitibanos!), mas leva a nota... e me dá o troco errado. Depois de mais 15 minutos, tudo se resolve.

Lá pelas 20h, entra a banda de abertura: Cachorro Grande! (U-huuuuuuuu!). Eu, que já tinha sofrido por uma hora com essa praga no show do Oasis, aguento mais uma hora ouvindo as mesmas músicas e as mesmas frases de um ano atrás. Acho que nem os sete castigos de Deus aos egípcios (vide livro do Êxodo, na Bíblia) seriam tão insuportáveis.

"- Já são quase na hora!", diria meu amigo Ivan mais tarde (acho que são as drogas).

Passado esse momento de júbilo (que foi o final da apresentação deles e um breve intervalo), às 21:37h, entram os caras. Aerosmith está na área; se tentar derrubar, eles não caem, fazem o gol de qualquer jeito. O Steve Tyler parece uma bichosca louca; o Joe Perry, um guitarrista alucinado. O cara tocou com a guitarra nas costas, fez batalha contra o Guitar Hero... o show foi um espetáculo à parte de cada um dos integrantes... hilário! E as músicas... os caras têm todos uns 60 anos, mas ainda tocam e cantam como se tivessem 20.

"Dream on, dream on, dream on
Dream until your dreams come true"

Duas horas e dez minutos de puro rock. Não existe Fresno, NX Zero, Babyshambles ou o caralho dessas bandas novas que chegue aos pés de um grupo como esse. Rock bom mesmo é o rock antigo, por mais saudosista que isso possa parecer.

Depois, a volta. O frio da noite; a impossbilidade de dormir sentado num banco, mesmo cansado; parada pra comer às 4 da manhã; Curitiba às 8 da matina. Foi cansativo, mas realmente valeu a pena!

Isso me faz pensar na tradição que tem o ser humano de passar aos outros e através dos tempos suas idéias, suas histórias, seus sentimentos através da música. Essa traz a transformação sem deixar de conjugar-se com o que é tido por obsoleto; a união de tempos os mais diversos por meio de algo tão aprazível aos ouvidos... deve ser por isso que a música é algo tão cativante e universal... e é por isso, certamente, que fazemos coisas como as que eu narrei acima para vermos um show de rock.

Quarta tem Biquini Cavadão. Ainda bem que é em Curitiba. :P


Poema do dia:

Diga Que Não Sabia

Tome seu remédio
Finja ser feliz
Em meio ao tédio
De quem não pede bis
Por medo, sacrilégio
De não ser por um triz
O principado régio
Que todo mundo quis

Tome suas dores
Finja sofrer muito
Sem pudores
Quando o caso é fortuito
Os planos e esforços
São dados ao seu Deus
Que te pede reforços
E você diz adeus

Jogue fora o caráter, a ideologia
Tenha apenas drogas, dinheiro, camisinhas
E, quando envelhecer, diga que não sabia
Que a vida seria tão mesquinha

Tome mais um copo
Finja ser bem louco
Até o topo
De tudo e mais um pouco
No fundo, ainda é raso
O rio em que 'cê nada
Fazendo pouco caso
Da merda na privada

Cristiano Tulio - 31/05/2010

domingo, 23 de maio de 2010

Shrunken Man

Essa foi uma semana curiosa. Algumas coisas boas, outras ruins... no geral, eu diria que o saldo foi positivo.

Odeio gente fofoqueira e velhaca. Pessoas que tentam puxar o tapete dos outros para subir, pois impossível fazerem-no pela competência. Imbecis fracassados incapazes de fazer melhor e enciumados de quem o faz. É por isso que esse país... que esse mundo não vai para frente.

Passado o assalto de ódio, ontem fui a um restaurante chamado Aire, no Centro. Tem ares de chique: a comida é cara e vem em porções estilo "trattoria". Entretanto, o atendimento é ótimo e, o ambiente, aconchegante. Sem falar na apresentação de dança flamenca (que me gusta mucho, sí).

Os dançarinos compenetrados em sua expressão de uma tradição que luta para perdurar no mundo moderno. Costumes esses que vêm se apagando rapidamente com a padronização imposta pela globalização. Pensava nisso enquanto observava a dança e tentava imaginar exatamente que realidade elas expressavam. Flerte, conquista, afirmação, caráter, honra?

Estamos perdendo a identidade de grupo para nos transformarmos em individuais que interagem e se comunicam apenas virtualmente... uma regressão à Idade Média dos burgos, porém, num espaço ainda menor: nossas casas. Admirável Mundo Novo não era assim tão pessimista... pelo menos eles se promiscuíam pessoalmente, não por webcam (a que ponto chegamos!)

"It's learned behavior, uh huh
It's evolution, baby!"

Pearl Jam - Do The Evolution


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 18/05, Shopping Estação, 13:41h. Eu e dois de meus colegas de serviço passeávamos pelo hall do cinema, quando vimos um piá de uns 12, 13 anos "dançando" freneticamente em uma daquelas máquinas de dança que todo shopping possui. Um grupo de igual idade o cercava, torcendo pelo seu bom desempenho. De repente, não mais que de repente, um dos outros piazinhos solta:

- Vai, Ju, não pára, não pára!

Esse aí ainda tem muito o que aprender...


II

19/05, 17:17h, ponto final da linha Água Verde/Abranches, esquina da R. Mateus Leme com a R. Vitório João Brunor. Como os ônibus vinham apenas de 25 em 25 minutos, eu passava a maior parte do tempo fazendo... nada. Lendo um gibi que eu comprei, às vezes. Eis que, pouco antes do horário supracitado, um velhinho estaciona seu carro por ali perto e desce com uma pasta onde se lia "Poder Judiciário" em direção à farmácia; logo, era advogado. Logo depois, já voltando ao carro, pára, olha para mim, aproxima-se e diz:

- Posso te fazer uma pergunta?

- Pode sim, à vontade. (Já me preparava para levar um esporro sobre moral e ética sem ter culpa disso).

- A que se deve a... a sua atuação... aqui?

- A aquilo ali (apontei um coletivo que vinha). Ônibus.

- Aaah sim sim, entendi!

Logo que expliquei exatamente o que fazia ali, o velhinho concordou comigo e se mandou; foi bastante gente boa. Mas que ia bronquear comigo se eu não tivesse um bom motivo de ali estar, ah ia!


III

20 de Maio, 17:21h, linha C. Comprido/CIC, carro LA054, R. Eduardo Sprada. Passava eu dentro dele de volta ao Terminal do C. Comprido quando, perto da Estação Tubo CIC Norte, observo uma menina de uns 6 a 8 anos riscando com giz de várias tonalidades um anúncio que propalava: "Xerox Colorido a R$0,08".

A propaganda é a alma do negócio.


IV

22/o5/10, Av. Iguaçu esquina com R. João Negrão, 14:31h. Estávamos parados ali por perto quando, súbito, um carro sai de um estacionamento, se posiciona mais ou menos no meio da quadra, engata a ré e vem por uns 100m até estacionar perto da esquina. Depois volta e entra no recinto do dito local.
Logo após, outro carro faz a mesma manobra duas vezes. Em terceiro lugar, a barbeiragem é feita com um BMW, o que nos fez questionar o garoto que manobrava (e que era o mesmo nas quatro vezes) qual o propósito da ação.
Este confessou-nos que fazia isso com automóveis de clientes para não precisar andar a pé ao trocar alguns carros de estacionamento, visto que aquele já estava superlotado... que coisa, não?


Poema do dia:

Ufanista Sem Alívio

Vivo num país em guerra
Mas que finge estar em paz
Onde o cidadão que erra
Sempre sai ganhando mais
Vou numa nação em crise
Mas que diz ter o controle
De todo e qualquer deslize
Enquanto o povo passa fome

Vivo sobre um chão sem dono
Mas que muitos reivindicam
Os jovens vivem com sono
Os velhos morrem nas filas
Sigo sem saber por onde
Paro sem saber por que
Enquanto o Estado se esconde
Bem onde eu possa ver

Ninguém se cansa
De falar sem começar
E nessa dança
Quem dita o ritmo é quem não sabe tocar

Vivo só pra sustentar
Uma estrutura falha
Que insiste em me passar
Pelo fio da navalha
O Direito é sinistro
Só o tem quem dele sabe
O canhoto é mal visto
Como alguém que aqui não cabe

Vivo e sobrevivo, sempre
Pois, de medo, eu não desisto
Dos ladrões, ninguém me lembre
Todo o dia eu assisto
Aos assaltos que, impunes
Vêm à noite, à luz do dia
E o que hoje não se assume
Coragem, tudo é covardia

Ninguém se cansa
De tirar sem repor
E nessa dança
Quem dita o ritmo é quem não sabe compor

Cristiano Tulio - 12/05/2010

domingo, 16 de maio de 2010

Pigs On The Wing (Part II)

Antes de tudo, não seria brasileiro se não comentasse a seleção do Dunga (ou seria Bunda?)... que coisa horrível. Kléberson, Elano e Gilberto Silva... acho que até minha avó com as duas pernas amarradas joga mais do que eles. E olhe que alguns são reservas em seus times. Para completar, o time é uma retranca só. '94 remember? Yes, I think so. Sofreremos muito.

Esses dias assistia a uma reportagem que tinha como título "por que está mais fácil comprar um carro novo?" Simples. A quantidade produzida não possui demanda; o poder aquisitivo da população em geral é baixo; já existem carros aos montes na rua, e; o fantasma da crise no setor é uma constante. Solução: parcelar a perder de vista para que os menos abonados possam pagar um carro por 5 anos. A empresa vai ter fonte de recursos para o futuro e, se algo der errado, toma o veículo de volta e refinancia. O inferno na terra para quem compra.

Ontem, no evento evangélico "Marcha para Jesus", ocorrido no Centro Cívico e no qual trabalhei, pensei que minha cabeça ia estourar. "Aleluias" em altos brados, rock pesado. Nada tenho contra os evangélicos, mas detesto exagero...

Lá pelas 16h da tarde, quando iniciou-se o "rap do Senhor", em dada altura da canção (canção?) ouvi que "Buda, Maomé, o Papa" não tinham morrido por eles; somente Jesus. Como lembrou um colega meu... existe tanta coisa na Bíblia que foi tirada de religiões e crenças diversas... "what the fuck are we sayin'"? Ademais, a grande maioria desses, em cada religião, morreu tentando levar seu povo ou as pessoas em geral a um caminho melhor... ou seja, sem noção.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 14/05/2010, 18:35h, esquina entre a R. Sen. Xavier da Silva e a R. Mateus Leme. O veículo 24043, linha Ctba/Jd. Marrocos, aproveita o cruzamento parcialmente trancado e termina de fechá-lo, passando no vermelho para tanto. Condutores em vários carros buzinam; o motorista apenas dá um tchauzinho e vai embora.

Acho que é a última vez que ele se despede de mim.

II

Estação tubo Bigorrilho, sentido C. Comprido, dia 07/05/2010, 14:09h. Entro e apresento minha credencial para o cobrador. Logo que adentro o ponto, as portas da estação, até então constantemente abertas, se fecham num piscar de olhos. Por que será que isso sempre acontece quando entro em uma delas?


Poema do dia (a pedidos):

Bela Morena

Te escondes de mim
Que é para eu parar
De te olhar assim
De tu continuares
Querendo que eu veja
O que não queres mostrar
E que assim seja
Não sendo, será

Cristiano Tulio - 09/05/2010