quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Only In Your Heart

Tenho lido, ao longo da vida, muita coisa no sentido de que a existência serve para ser desfrutada intensa e presentemente, sem que haja preocupação com o que está por vir.

Aí vêm aqueles argumentos do tipo "eu posso morrer amanhã, por isso fumo"; "fico bêbado constantemente porque é assim que se aproveita a vida"; "corro que nem louco com o carro porque é emocionante, dá adrenalina", e etc..

Pois bem... é um dos maiores disaparates que eu já li/vi/ouvi.

Claro, avancemos por partes (Jack, a serra, por favor!).

Não é que, volta e meia, não se possa sair da rotina... que isso te impeça de fazer algo legal ou radical e, mesmo, arriscado. Eu mesmo confesso que tenho "pé de chumbo" ao dirigir e que gosto de tomar meus porres de vez em quando.

Entretanto...

Tudo é equilíbrio (vide idéia oriental do Ying-Yang). Os extremos podem até ser aproximados, porém, nunca alcançados. É como um limite aritmético: tende a determinado valor, mas nunca chega a ele plenamente. Princípios químicos: caso o máximo da adrenalina, exempli gratia, seja atingido, o corpo entrará em colapso por conta do excesso dessa substância no sangue. Isso sem contar com outras metáforas que eu posso fazer aqui.

Não se pode ignorar que o "negativo" está presente no "positivo". Afinal, um não existe sem o outro, o que nos leva admitir que os excessos são plenamente compreensíveis. O que não podem e ser tais e de tal constância que terminem por minar a vida do indivíduo.

Não obstante, há outro fator a ser levado em consideração, o qual reside na pergunta: "e se eu não morrer amanhã?"

É, caro leitor. Pode ser que você viva 70, 80, 90 anos. Como não pensar no amanhã quando a nossa "centelha divina" subsiste por cada vez mais tempo¹?

Eu, particularmente, gostaria de viver por apenas quarenta, cinquenta anos, no máximo. Contudo, não posso ignorar de que posso ir mais longe.

O negócio é aproveitar. Exceder um pouco onde for possível, flexibilizar, estender limites... não ultrapassá-los num caminho sem volta.

Isso se aplica também aos relacionamentos. As pessoas envelhecem, perdem a vitalidade, a beleza. Os homens ficam flácidos, mulheres tornam-se frígidas. Sobram apenas a comunicação e o conviver, que andam muito em baixa hoje. Lembro-me sempre daquele velho adágio: "case-se com alguém com quem goste de conversar".

Obviamente, não é bom que nos atenhamos ao excesso de precaução. Viver é um risco e a única certeza é a morte (é cliché, eu sei, mas é verdade). Tomo aí uma parte do sermão da missa de Domingo: aqueles que procuram guardar tudo para si e viver com um cuidado extremo, pensando apenas no amanhã, podem morrer sem usufruir do que acumularam².

"You can disregard your friends
But life gets so hard
When you reach the end"

Poderia discorrer sobre isso por muito tempo... acho que já está bom.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 04/08/2010, 18:23h da tarde. Linha Tamandaré/Cabral, veículo 16R34. Voltava para pegar o carro no Cabral e ir para casa ali no banco da frente, conversando com o motorista e o cobrador. Chegando na esquina da Av. Anita Garibaldi com a R. Eçá de Queiroz, o sinal abre e alguns veículos querem entrar à esquerda, trancando o ônibus. Logo que o último carro faz a conversão, o motorista se prepara para arrancar e acelera bem na hora em que o sinal se torna amarelo e, depois, vermelho. Conformado, o condutor me vem com essa:

- Não queria passar mesmo!

II

Dia 17/08/10, Terminal Cabral, 15:30h. Eu e meu colega Lucas estávamos saindo do horário de lanche, voltando ao suado e exigente trabalho a que servimos. Eis que, num rompante de entusiasmo, ele diz:

- Faz tempo que não vou passear daquele lado (o que eu estava controlando). Vamos lá dar uma volta.

Belo passeio... mal atravessamos a canaleta que divide o terminal, o biarticulado GD350, linha Sta. Cândida/C. Raso, sentido Sta. Cândida, trava na plataforma com a rampa da porta 5 emperrada. 10 minutos de tentativas para subir a rampa e nada. Tivemos de retirá-lo dali com a rampa baixa mesmo e recolhê-lo em seguida.

III

Mesmo Cabral, às 17:20h, mais ou menos. Uma mulher e sua filha chegam-se a nós desesperadas pedindo auxílio para que localizemos sua filha, que fugiu de casa. Súbito, a menina aparece no terminal, andando de bicicleta, lépida e faceira. Mãe e filha vão conversar com ela, o que acontece por uns 5 minutos... logo após, a infanta "foge" novamente.
A mãe disse que não poderia levá-la à força (!). Sugeri ligar para o FAS, ela disse que eles a tirariam de casa (!!). Sugeri então a polícia, a mãe objetou afirmando que eles estuprariam sua pequena (!?).
Logo, a menina voltou. Mais alguns minutos de conversa e a menor disse que voltaria para casa de bicicleta mesmo. Perguntei onde moravam: Colombo. Ia chegar em casa 18:30h pelo menos.
Depois disso, desisti.


Poema do dia:

See It Soon

Think about it, but don't react
To the absurd stuff you see at the facts
Dream about me, but don't believe
That I'm gonna stay when you leave
That I'm gonna obey to the order you give

Oh, no, there's nothing you can do
When the distrust enters the room
You've gotta see it soon

Plan about this, it won't work out
With the distorced view at all the faults
Breathe out and in, but don't confide
That you're gonna live when I die
That you will not need what I provided

Oh, no, there's nothing you can do
When the flower of lie is in bloom
You're gonna see it soon

Simple, as you see
Hard to explain
'Cause you and me
Won't be back again
Won't be here again
Won't be one again

Cristiano Tulio - 02/08/2010


1 - "Utilizamo-nos de máquinas ao invés de fazê-lo com nossos corpos e então, quando estes últimos nos falham, as primeiras nos mantêm vivos. Quando não sentimos a vida, não sabemos o que é estar vivo". (Bernard Sumner, capa do CD "Raise The Pressure").

2 - Então Jesus contou a seguinte parábola: - As terras de um homem rico deram uma grande colheita. Então ele começou a pensar: “Eu não tenho lugar para guardar toda esta colheita. O que é que vou fazer? Ah! Já sei! - disse para si mesmo. - Vou derrubar os meus depósitos de cereais e construir outros maiores ainda. Neles guardarei todas as minhas colheitas junto com tudo o que tenho. Então direi a mim mesmo: ‘Homem feliz! Você tem tudo de bom que precisa para muitos anos. Agora descanse, coma, beba e alegre-se.’ ” Mas Deus lhe disse: “Seu tolo! Esta noite você vai morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?" (Bíblia, Evangelho de Lucas, 12, 13-21).