quinta-feira, 22 de abril de 2010

Bad Obsession

I

Dia: 18/04/10. Hora: 18:41. Local: Terminal do C. Comprido, carro LR103, linha Interbairros IV. O veículo preparava-se para sair e o motorista deixara apenas a segunda porta de desembarque aberta, esperando três "manos" que corriam para pegar o ônibus. Mal entraram, dois deles se apoiaram na última porta (do fundão); o terceiro havia se abancado e, em pouco, mudara de idéia, levantando para se encostar à porta também. Foi quando o condutor, com uma presença de espírito gigantesca, abriu a porta e o "truta" ficou com o ar para se apoiar, num sincronismo digno de balé Kirov. Na seqüência, o "mano" foi direto porta afora e o motorista simplesmente fechou as folhas, ignorando os protestos dos amigos do "vida loka".

- Ô motorista, olha a porta aqui, ô meu! Espera aí, tio!

Vrum, vrum, vruuuuuuuuuuuuuuummmmmmmm...

Se eu pudesse, eu tinha cumprimentado o operador.


II

Dia: 19/04/10. Hora: 12:36. Local: Terminal do Carmo, carro HD243, linha Boqueirão. Mal o ônibus parara, as rampas desceram, e... apenas isso. O motorista apertava freneticamente o botão das portas e nenhuma delas abria. Nem as de emergência. Uma guria gritou lá de dentro:

- Abre a porta, caralho!

- Cheia de caralho e porra na boca! - foi o comentário do meu colega.

Durante dez minutos, os passageiros daquele carro viveram uma cena digna de filme. Ninguém entrava, ninguém saía; um seqüestro acidental (ou não?) por parte do veículo. Logo após esse interregno, o motorista conseguiu - depois de desligar o motor e soltar o ar do do sistema - abrir a porta 1, por onde fugiram, em polvorosa, os passageiros presos.
A parte seguinte foi pior: o ônibus tinha que sair dali. Como, se as rampas não subiam? Simples: os fiscais tiveram de erguê-las na marra e segurá-las enquanto o condutor fazia o ônibus se mover.
Simples?
Não foi uma tarefa fácil e, uma hora, uma das rampas quase caiu sobre um deles. Por fim, o carro foi retirado e as mãos eram só fuligem. O trabalho dignifica o homem.


III

Uma frase do meu colega Ary sobre o Terminal do Cabral, enquanto discutíamos sobre qual deles possuía o pior banheiro:

"Ali você perde a esperança do ser humano".

Um resumo perfeito da obra.


Poema do dia:

Pensara Dizer Algo

E tanto estamos que não vamos
Nem sabemos o que vem
Com a luz que nós apagamos
Com as vozes de ninguém

E tanto temos que não cremos
Nem pedimos o auxílio
Para o Deus que apenas vemos
Quando dão-nos o exílio

E tanto abrimos que não vimos
Nem há como adivinhar
O destino que nós reduzimos
A um contínuo lamentar

E tanto fomos que não somos
E as vozes que ecoam
São as nossas, que não pomos
Credo nos gritos que troam

Cristiano Tulio - 19/04/2010

sábado, 17 de abril de 2010

(What) More Than This(?)

Numa das minhas visitas mensais ao mercado, deparei-me com um anúncio singelo, porém, engraçado: "Confie no laranja, o genérico do rosa" (referência ao produto de limpeza de roupas Vanish). A criatividade a a cara-de-pau do brasileiro são mesmo incríveis...

Enquanto voltava para casa, na quarta-feira, um Interbairros II vinha em alta velocidade pelo declive logo após o tubo das Mercês, na Jacarezinho. Eu nunca tinha visto um ônibus pular na minha vida. Aquilo que poderia ter resultado num desastre "gigaenorme" (como diria uma louca que eu conheço), visto a quantidade mínima de tráfego (às 18:30h) que seria atingida pelo monstro de 28 ton tal qual pinos em um jogo de boliche, tornou-se uma imagem muito curiosa. É como se um cavalo de aço indomado pulasse furiosamente sob o controle de um cavaleiro experiente... no caso, o motorista que teve a coragem - ou a burrice - de lançar-se de tal forma rua abaixo.

Isso me lembra de que nem sempre as pessoas medem as conseqüências de seus atos. Ou medem, mas nunca acham que dará errado. Quando dá, não assumem, e personificam as vítimas que, em verdade, prejudicaram. A Psicologia explica...

"Like a dream in the night
Who can say where we're going?"

Por fim, hoje, ao voltar do serviço, enquanto dirigia, olhei para o retrovisor e nele vi um farol redondo. Já pensei comigo: "Estou com a cabeça muito no trabalho mesmo... já confundi esse farol de Kombi com o de um ônibus!" O pior: era mesmo um... o BR107, da linha Interbairros II.

Poema do dia:

Fácil Demais (Pra Que Eu Entenda)

Entre a fome e a miséria
Entre o azar e a perversão
Entre o simples vácuo e a antimatéria
Escuridão

Entre a vodka e o álcool
Entre o gato e o leão
Entre essa realidade e um grande palco
Perdição

Fulanos e ciclanos
Levaria dias. Meses. Anos
Pra desenganar os meus enganos...

...E para cantar meus desencantos

Cristiano Tulio - 11/04/2010

domingo, 11 de abril de 2010

Book Of Brilliant Things

Aqui estou eu outra vez, tentando pensar em algo a ser postado. Escutando uma música que ainda tenho que equalizar e terminar. Pensando em tanta coisa e com preguiça de agir para concretizar qualquer uma que disso necessite.

Concretude, concreto. Palavras que me sugerem mais o aparato da construção civil do que as realizações. Essas nunca vêm como concreto; no máximo, como uma pedra pomes ou uma esponja marinha com algumas espículas...

Se fosse concreto, teríamos certeza. Heisenberg nos tirou isso. O que nos resta? Correr atrás do que nem sabemos se queremos (parafraseando Morgan Freeman em "O Todo Poderoso")? O simples movimento é rotina, porém, é a única repetição que dá alguma graça à vida... vida, dês graça!

Esquece... poema de hoje:

Hand On Her Heart

It was warm and quiet
Such a perfect night
To begin a riot
Right inside that house

It was me and her
Such a lonely sight
To show up the true
That we used to hide

Just believe your will from now on
I said to her, and she answered me
To put my hand on her heart

It was nice and slow
Such a naked scene
As our faces glowed
And our blood ran thin

Just believe your lust from now on
I said to her, and she answered me
To put my hand on her hard

Hearts beat hard
Heartbeat hards
Heart beats hard

Cristiano Tulio - 11/04/2010

domingo, 4 de abril de 2010

Cotidiano nº 2

I

29/03/10, 16:32h, horário de trabalho. Veículo 18A62, linha Maracanã/Sta. Cândida, trafegando pela R. Alfredo Gomes Cordeiro.

Parecia apenas mais um dia de labor. Passeava meu olhar desatento pelo local por onde então passava para chegar ao Terminal do Maracanã, em Colombo. Curiosamente, o final da rua em que estava era de saibro, repleto de pequenos buracos. Curiosamente, havia chovido naqueles dias, o que formou poças nas tais saliências.

O ônibus trafegava a 30km/h, quando muito, para vencer aquele trecho. Súbito, em sentido contrário, surge um Renault preto reluzente, cujo proprietário conduzia feliz e orgulhoso... com a janela aberta.

Considerando que um carro modelo padron (o ônibus normal) pesa aproximadamente 18 ton, a velocidade de deslocamento da água da poça é grande. Assim, quando ambos se cruzaram, não houve chance de o "pobre" motorista baixar sua janela. E, poça após poça, a água lamacenta ia sendo jogada dentro de seu carro último tipo, ensopando-o por completo.

Culpa do governo, do motorista, do operador do ônibus, de Deus, do acaso, da chuva?

Fazia tempo que eu não ria tanto.


II

" - ...mas, você e teu pai queimaram a aranha por quê?
- Meu pai disse que era daquelas que carregam vários filhotes dentro dela.
- Não era só pisar nela?
- Não sei, eu nem liguei pra isso. Só 'tava afim de tacar fogo em alguma coisa, então, segui o conselho.
- E como vocês sabiam que ela era aranha, e não "aranho"?
- A gente não sabia, apenas prevenimos.
- Da próxima vez, faça uma fila pra gestantes e outra pra aranhas comuns. Aí, se ela escolher a primeira, ela 'tá grávida!
- Ahn?
- Faça uma maquete... de um banco! Ah, todo mundo tem que pagar contas às vezes né?"

O que uma conversa em família não proporciona, às vezes...

Poema do dia/semana/mês/eternidade, dependendo do ponto de vista:

On Foggy Days

We run through the darkest night
Go underneath the pouring rain
With a big storm in our minds
And a mute scream from within

We slide down the thinnest line
Just praying that we don't fall out
One more day and we'll be fine
That's what we'd ever thought

Til the stars faded
Out of our ways
And our smiles wasted
On foggy days
Til we were two
We've been just one
It's me and you
Together alone

We creep through the underground
Waiting for a train to leave
But we can't escape ourselves
Our naked legs and broken greaves

Cristiano Tulio - 03/04/2010