segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Slave Nation

Neste último Domingo, pra variar, a leitura de uma das epístolas bíblicas me ensejou uma reflexão sobre algo extremamente em voga nos dias atuais: o assistencialismo.

Escreveu São Paulo aos Tessalonicenses: "Aquele que não trabalha não deve comer". Simples, fácil e rude.

Embora essa regra admita exceções - visto que nunca se deve fazer uma leitura dos textos antigos "ao pé da letra" - , e que há situações e situações, me faz pensar no atual "estado da arte" dos valores modernos.

Apóio a tendência de ajuda aos mais pobres e menos sortudos, por assim dizer. Entretanto, confesso que discordo completamente do tipo deste que é, hoje, empregado no Brasil, por exemplo.

Vejo e entendo que o governo faz uma redistribuição de renda equivocada: poderia lançar mão do IGF - Imposto sobre Grandes Fortunas - , constitucionalmente previsto mas jamais sequer cogitado. E quem paga pela assistência aos mais necessitados é quase que exclusivamente a classe média.

"Oh, pobre classe média!", diriam-me em tom de sarcasmo e cinismo alguns. Não, não é que ela seja exclusivamente vítima: somos, em regra, também, opressores dos desafortunados. O que não me atina é porque a carga de auxiliá-los não é extendida ainda aos realmente ricos, os que realmente têm condições de fazê-lo. A não-instituição do imposto citado para o equilíbrio sócio-econômico das classes (ou melhor, para uma maior eficácia e justiça da "paz social") é incompreensível. Emendando: é, sim, compreensível, porém não no campo lógico.

Ok. Suponha-se que isso, mesmo assim, esteja correto. Não consigo conceber, de qualquer forma, a ideia de que devemos sustentar aqueles que nada possuem sem exigir alguma contrapartida deles, exceto a de continuarem miseráveis.

Explico: você não resolve o problema se dá o peixe ao esfomeado; apenas faz por mitigar seus efeitos. O empecilho permanece. A solução é outra: ensiná-lo a pescar. Assim, em meu ponto de vista, deve-se, sim, oferecer suporte financeiro aos mais pobres, contudo cobrando deles alguma atitude que faça com que cresçam na vida por seus próprios méritos.

Contrariamente a isso, assisto diariamente a pessoas que fogem do FAS (Assistência Social daqui de Curitiba) e de albergues, preferindo dormir ao relento e passar fome a submeterem-se a algumas regras que o lugar impõe. Por outro lado, vejo cidadãos mentindo sobre sua renda para manterem os "vales" que o governo concede.

Assistindo ao longa "Tropa de Elite 2", isso me pareceu ainda mais claro.

"I walk this wild road
Can you tell me will I reach the end?
This endless night goes on
But I still can't find my way home"

Está tudo às avessas.


Causos do transporte coletivo

I

Dia 04/11/10, quinta-feira, 15:14h., Term. Maracanã. Mastigava calmamente uma das minhas barras de Nutry enquanto me dirigia de volta à guarita do cobrador, quando um senhor me abordou e perguntou:

- Você é da Urbs?
- Sim.
- Vomitaram ali dentro do Maracanã/Sta. Cândida.

Ótima forma de interromper meu lanche. Entrei no veículo para indagar dos operadores se eles tinham visto algo; disseram que não. Andamos pelo carro procurando o vômito. Logo o achamos: próximo à primeira porta de desembarque, um material róseo cobria o chão e os dois bancos. Era uma cena digna de filme de terror.

- Ah não, assim não dá. Pode recolher o carro.

Depois, na próxima viagem, voltou o mesmo carro, lavado e pronto para rodar novamente... o que a perda de quilometragem não faz.

II

Dia 02/11, 14:40h, Term. Sta Cândida. Conversava com o vigia quando ele me apontou uma moça mulata, dizendo: "A Vanessa da Moita ali também é gostosa".
Efetivamente, quando olhei, ela tinha o cabelo armado num rastafári, e eu acho que a confundiria com a vegetação, se estivesse andando pelo mato, apenas pelo cabelo.

III

Ainda no Sta. Cândida, no mesmo dia, lá pelas 16:10h, uma senhora veio reclamar dos Interbairros III para mim:

- Você é da Urbs?
- Sim
- Esses ônibus vivem atrasados, já faz tempo que estou esperando o Interbairros III.
- Eu sei, mas hoje deu azar de o único atrasado ser a tabela desse horário.
- Nada, estão todos atrasados!
- Em geral sim, mas...
- Ah, não adianta, vocês também protegem os motoristas!!!

Aí eu fiquei puto. Eu protegendo os condutores... só podia ser piada. A velha me trucou, agora eu ia subir pra doze.
Falei pra um funcionário da Glória e pro cobrador da bilheteria:

- Se chegarem dois, eu corto o atrasado e faço a velha ir no ônibus lotado só pra ela aprender.
- Quero só ver!

Dito e feito: apontou o Redentor atrasado e um Campo Largo da tabela seguinte, no horário. os dois me falaram:

- Aí, cantou a pedra, agora quero ver fazer!
- Deixe comigo.

Cheguei pouco antes do bolo de gente que esperava, subi no ônibus e falei ao motorista:

- Encoste lá na frente que eu vou te cortar.

Passou o Redentor e encostou o Campo Largo, que saiu lotadaço, com idosa e tudo. O Redentor eu instruí a recomeçar no Carmo, no horário. Afinal, não era o que ela queria?

IV

Ainda no mesmo bat-local, idêntica, data, às 16:21h, uma menina que me pedia informações olhou para o guarda que me acompanhava e disse, na lata:

- Sabe quem você parece?
- Quem?
- Shrek!

Eu rolava de rir.

V

Ainda lá, às 17:01h, a gordinha da lanchonete chegou pro vigia e disse, na frente de todo mundo:

- Aqui tem água gelada para vigilantes fortes, musculosos e bonitos aqui do Terminal.

O vigia, ligeiro, veio com essa:

- Ah, então não é comigo!!!

VI

Terça-feira, 09/11, 15:33h, Term. Cabral. Conversava com o colega Santos quando ele começou a me contar como foi o diálogo de quando fechou, uma vez, o portão para idosos , impedindo que um cidadão passasse:

- Não pode passar aqui não!
- Mas tava aberto, e eu vou perder meu ônibus!
- Não tem problema, tem ônibus até meia-noite!
- Porra, por que não posso passar? Antes tava aberto!
- Tava aberto, agora eu fechei! Dá a volta!

A maldição deve ter atingido até a oitava geração da família do Santos.

VII

Quinta, 11/11, 13:13h, Cabral. Passava por ele pra continuar trabalhando e não sei por que tive que parar ali. Aí veio o Santos e me disse:

- Viu que assaltaram um piá agora há pouco?
- Não! Como assim?
- Nah, roubaram o celular de um piá ali na plataforma... segurei até o Guaraituba!
- Por quê?
- Sempre que algum roubo acontece, pode ter certeza de que o cara embarcou no Guaraituba/Cabral!

VIII

Sexta, dia 12, lá pelas 15:03h da tarde. Acabava os tubos e ia subir no biarticulado quando a porta 3 se abriu e me revelou uma tragédia: alguém tinha "aberto a marmita" ali, lavando a porta e o chão. Logo descobri quem era: um piá de colégio trêbado já no início da tarde.
Liguei para o Carçudo no Sta Cândida:

- Véi, tou no BD124 aqui, lavaram de vômito a porta 3. Vê aí se dá pra recolher essa porcaria, tá nojento isso aqui.

Fui até o motorista:

- Cara, vomitaram lá atrás, não abra a porta 3 nos terminais.

Voltei para descer no Cabral, o piá tava babando e parecia que ia largar mais strogonoff por ali. O que é não saber beber, tá louco...

IX

Nesse mesmo dia, o Santos contava como eram os tempos antigos de trabalho dele no Banestado e na Urbs. O que ele contava era digno de um livro, porém, tive que deixar o relato na metade para continuar trabalhando.
Quando voltei, perguntei ao Ítalo-Disco o que ele tinha contado a mais, no que ele me disse:

- Pô, Psicopata, na hora em que ele me falou que tinha sido receptador de carros roubados eu saí fora, né!

Será que eu estou mesmo trabalhando no lugar certo?

X

Mais umas frases que ouvi sobre a conversão do cartão para o novo sistema:

- Oi, como é que faz pra inverter o cartão?

- Licença, eu queria reverter o cartão...


Poema do dia:

Solidão

Se tudo o que eu te disse não adiantou
Se tudo o que eu chorei somente te secou
Não há mais nada que eu possa fazer

Se a luz do amanhecer, tua Lua, apagou
E a voz do enternecer somente te irritou
É hora de apenas parar de ser

E deixar pelo caminho
Apenas duas pegadas
E toda a solidão que nos tomou
Pois, se estávamos sozinhos
Era plena a madrugada
E agora o Sol absorve nosso ardor

Se o que eu ofereci, você só rejeitou
Se aquilo que eu pedi, você não me doou
Não há mais nada que eu possa querer

Se a estrada para o teu bosque se fechou
E meu refúgio você, sem pena, cercou
É hora de eu apenas parar você

Cristiano Tulio - 09/11/2010

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