segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Happy Birthday, Sweet Sixteen¹

Tinha pensado num assunto bem interessante para abordar aqui hoje... entretanto, foi às cucuias: esqueceu-me o que era. Lembrei-me então de um fato ocorrido durante essa última, largamente divulgado nos jornais, e aí decidi, sobre ele, debruçar-me.

O caso foi o daquela adolescente de 13 anos que fugiu de casa para encontrar-se com um namorado virtual, o qual morava nas cercanias da Região Metropolitana de Curitiba. Após a denunciação do sumiço da jovem pela mãe - e a consequente veiculação deste em todos os meios de comunicação possíveis -, a "criança" foi encontrada na casa da família do rapaz, que restou acusado de aliciamento de menores e, se detectada, por exames, a ocorrência de conjunção carnal entre os dois, de pedofilia.

Logo, a mãe recebia a filha em casa, em meio a choro e um caloroso abraço de alívio. Compreensível; porém, muito mal explicado.

Aí entram minhas observações, e a ligação desse assunto com a maioridade penal e a consciência dos adolescentes de hoje.

Agora, o rapaz sairá como mau elemento, aproveitador e descarado, seduzindo uma menor que - coitadinha - não sabia o que fazia ao oferecer-se para encontrar-se com ele. Conta a família do desafortunado mancebo que este a apresentou como sua namorada, e que ela mentiu sobre sua idade, dizendo ter 17 anos. A história é plausível; parece sincera.

Se assim for, pergunto-vos: alguém que não sabe o que está fazendo, que não tem consciência da atitude equivocada (?) que perpetra, se conduz de semelhante forma?

É obvio que o amásio deveria ter tomado mais cuidado: pedir os seus documentos para conferir a sua idade, claro!!! Haha... entretanto, quando encontramos uma pessoa com quem conversamos por meio da World Wide Web - ainda mais com o objetivo de, com ela, relacionarmo-nos amorosamente -, é difícil lembrar disso... existe mesmo uma confiança implícita nas informações que essa pessoa nos passa e, se elas são checadas e concebidas como reais e inofensivas no primeiro contato, por que duvidar?

Do ponto de vista jurídico, acredito que o moleque deva ser beneficiado por ter sido induzido a erro na prática do "crime", se este se verificar. As meninas novinhas e inocentes de hoje já não são tão inocentes... prova disso é que ambos os sexos perdem a virgindade cada vez mais cedo, segundo estatísticas relativamente recentes; é, também, que as meninas que tem 13 ou 14 anos parecem ter - e se vestem como se tivessem - 17, 18 anos. Enganos acontecem, infelizmente.

"She's just sixteen years old
Leave her alone, they say

Não é que o garoto tenha se conduzido da melhor forma... foi coió, certamente! Mas, parem! Esse sensacionalismo barato para destacar uma lição de moral de onde ela não existe é simplesmente subestimar minha inteligência; uma ofensa à minha capacidade de discernimento.

Vamos à diversão.


Causos do Transporte Coletivo

I

18/11, quinta-feira, Terminal Cabral, 14:29h. O motorista do BN411, linha São João, encostou e começamos a conversar enquanto não dava o tempo dele sair. Papo vai, papo vem, ele me sai com essa:

- Hoje eu almocei massas e frutos do mar!
- Opa, beleza hein! O que que era?
- Miojo com sardinha!!!

II

19 de Novembro, sexta, 15:19h, Terminal Cabral. Meu colega tinha ido lanchar e contava-me, na volta, que um "viado" tinha tentado entrar no terminal sem pagar a tarifa:

- É, ele tava tentando entrar e o porteiro não deixou.
- Sim, normal.
- Não, o negócio é que ele chegou pro porteiro e disse: "Como não pode entrar? Eu vi o fiscal passar por aqui!"

III

20/11/10, sábado, Terminal Sta. Cândida. Lá pelas 15:39h, enquanto eu lanchava, achegou-se um senhor de 78 anos (depois ele me contou a sua idade) e comentou, visivelmente contrariado:

- O tipo do cabra ali, tá loco!
- Mas o que houve?
- Tá vendo aquele véio ali?

Apontou para um senhor vestido à gaúcha, que aparentava ter uns 60 anos de idade para mais.

- Sim, sim.
- Pois é, com essa idade, chegou do meu lado no ônibus e foi me dizendo "Tesão, gostoso!". Tinha que ir pro diabo!!!

Calculem a minha vontade de rir. Calculem se fiquei só na vontade.

IV

Terminal Cabral, dia 24/11, quarta. Eram 13:40h da tarde e eu estava na guarita quando uma senhora se aproximou:

- Moço, de quanto em quanto tempo tem um Cabral/Osório?
- Então... de 25 em 25 minutos... o próximo vem às 13:48h.
- Ah, certo... então tem outro daqui a 25 minutos?
- Não, senhora, o próximo chega em 8 minutos.
- Vem em 25 minutos?
- Não, em 8.
- 25???
- 8! O próximo vem daqui a pouco já!
- Ah, tá...

Fiquei imaginando o que eu faria se viesse mais uma pergunta com o cardinal 25 no meio.

V

Dia 26/11, 16:40h, Biblioteca Pública do Paraná. Eu e um colega assistíamos a uma palestra ministrada por uma funcionária da Secretaria Municipal para Pessoas com Deficiência, à qual atendemos para efeitos de progressão funcional, quando a palestrante, extremamente empolgada, principiou a falar sobre as pernas mecânicas para os amputados:

- E temos também a perna mecânica, olhem só! Ela é... mecânica, né!

Já era suficiente para sufocarmos o riso. Mas podia ser pior:

- ...E alguns modelos vêm com tatuagens na perna mecânica! Têm vários desenhos pra deixar os donos satisfeitos, pra que eles se sintam normais!


Poema do dia:

Flores E Paus

Escrevi meu destino na areia do mar
Deixando pegadas pro tempo apagar
Marquei meus mapas com falsos lugares
Onde tenho meus verdadeiros lares

Entretanto, isso de nada me adiantou
O vento não veio e a maré baixou
E os meus tesouros foram descobertos
Amontoados em campos abertos

E assim, se isso é a vida
Que mais posso eu fazer?
Mostrar a alegria contida
E a tristeza esquecida
E continuar a viver

Construi meu forte com tanto pensar
Usando do que ninguém vai negar
Porém, não contava com flores e paus
Demonstrando a teoria do caos

Cristiano Tulio - 28/11/2010

Referências:
1 - Neil Sedaka - Happy Birthday, Sweet Sixteen
2 - Benny Mardones - Into The Night

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Slave Nation

Neste último Domingo, pra variar, a leitura de uma das epístolas bíblicas me ensejou uma reflexão sobre algo extremamente em voga nos dias atuais: o assistencialismo.

Escreveu São Paulo aos Tessalonicenses: "Aquele que não trabalha não deve comer". Simples, fácil e rude.

Embora essa regra admita exceções - visto que nunca se deve fazer uma leitura dos textos antigos "ao pé da letra" - , e que há situações e situações, me faz pensar no atual "estado da arte" dos valores modernos.

Apóio a tendência de ajuda aos mais pobres e menos sortudos, por assim dizer. Entretanto, confesso que discordo completamente do tipo deste que é, hoje, empregado no Brasil, por exemplo.

Vejo e entendo que o governo faz uma redistribuição de renda equivocada: poderia lançar mão do IGF - Imposto sobre Grandes Fortunas - , constitucionalmente previsto mas jamais sequer cogitado. E quem paga pela assistência aos mais necessitados é quase que exclusivamente a classe média.

"Oh, pobre classe média!", diriam-me em tom de sarcasmo e cinismo alguns. Não, não é que ela seja exclusivamente vítima: somos, em regra, também, opressores dos desafortunados. O que não me atina é porque a carga de auxiliá-los não é extendida ainda aos realmente ricos, os que realmente têm condições de fazê-lo. A não-instituição do imposto citado para o equilíbrio sócio-econômico das classes (ou melhor, para uma maior eficácia e justiça da "paz social") é incompreensível. Emendando: é, sim, compreensível, porém não no campo lógico.

Ok. Suponha-se que isso, mesmo assim, esteja correto. Não consigo conceber, de qualquer forma, a ideia de que devemos sustentar aqueles que nada possuem sem exigir alguma contrapartida deles, exceto a de continuarem miseráveis.

Explico: você não resolve o problema se dá o peixe ao esfomeado; apenas faz por mitigar seus efeitos. O empecilho permanece. A solução é outra: ensiná-lo a pescar. Assim, em meu ponto de vista, deve-se, sim, oferecer suporte financeiro aos mais pobres, contudo cobrando deles alguma atitude que faça com que cresçam na vida por seus próprios méritos.

Contrariamente a isso, assisto diariamente a pessoas que fogem do FAS (Assistência Social daqui de Curitiba) e de albergues, preferindo dormir ao relento e passar fome a submeterem-se a algumas regras que o lugar impõe. Por outro lado, vejo cidadãos mentindo sobre sua renda para manterem os "vales" que o governo concede.

Assistindo ao longa "Tropa de Elite 2", isso me pareceu ainda mais claro.

"I walk this wild road
Can you tell me will I reach the end?
This endless night goes on
But I still can't find my way home"

Está tudo às avessas.


Causos do transporte coletivo

I

Dia 04/11/10, quinta-feira, 15:14h., Term. Maracanã. Mastigava calmamente uma das minhas barras de Nutry enquanto me dirigia de volta à guarita do cobrador, quando um senhor me abordou e perguntou:

- Você é da Urbs?
- Sim.
- Vomitaram ali dentro do Maracanã/Sta. Cândida.

Ótima forma de interromper meu lanche. Entrei no veículo para indagar dos operadores se eles tinham visto algo; disseram que não. Andamos pelo carro procurando o vômito. Logo o achamos: próximo à primeira porta de desembarque, um material róseo cobria o chão e os dois bancos. Era uma cena digna de filme de terror.

- Ah não, assim não dá. Pode recolher o carro.

Depois, na próxima viagem, voltou o mesmo carro, lavado e pronto para rodar novamente... o que a perda de quilometragem não faz.

II

Dia 02/11, 14:40h, Term. Sta Cândida. Conversava com o vigia quando ele me apontou uma moça mulata, dizendo: "A Vanessa da Moita ali também é gostosa".
Efetivamente, quando olhei, ela tinha o cabelo armado num rastafári, e eu acho que a confundiria com a vegetação, se estivesse andando pelo mato, apenas pelo cabelo.

III

Ainda no Sta. Cândida, no mesmo dia, lá pelas 16:10h, uma senhora veio reclamar dos Interbairros III para mim:

- Você é da Urbs?
- Sim
- Esses ônibus vivem atrasados, já faz tempo que estou esperando o Interbairros III.
- Eu sei, mas hoje deu azar de o único atrasado ser a tabela desse horário.
- Nada, estão todos atrasados!
- Em geral sim, mas...
- Ah, não adianta, vocês também protegem os motoristas!!!

Aí eu fiquei puto. Eu protegendo os condutores... só podia ser piada. A velha me trucou, agora eu ia subir pra doze.
Falei pra um funcionário da Glória e pro cobrador da bilheteria:

- Se chegarem dois, eu corto o atrasado e faço a velha ir no ônibus lotado só pra ela aprender.
- Quero só ver!

Dito e feito: apontou o Redentor atrasado e um Campo Largo da tabela seguinte, no horário. os dois me falaram:

- Aí, cantou a pedra, agora quero ver fazer!
- Deixe comigo.

Cheguei pouco antes do bolo de gente que esperava, subi no ônibus e falei ao motorista:

- Encoste lá na frente que eu vou te cortar.

Passou o Redentor e encostou o Campo Largo, que saiu lotadaço, com idosa e tudo. O Redentor eu instruí a recomeçar no Carmo, no horário. Afinal, não era o que ela queria?

IV

Ainda no mesmo bat-local, idêntica, data, às 16:21h, uma menina que me pedia informações olhou para o guarda que me acompanhava e disse, na lata:

- Sabe quem você parece?
- Quem?
- Shrek!

Eu rolava de rir.

V

Ainda lá, às 17:01h, a gordinha da lanchonete chegou pro vigia e disse, na frente de todo mundo:

- Aqui tem água gelada para vigilantes fortes, musculosos e bonitos aqui do Terminal.

O vigia, ligeiro, veio com essa:

- Ah, então não é comigo!!!

VI

Terça-feira, 09/11, 15:33h, Term. Cabral. Conversava com o colega Santos quando ele começou a me contar como foi o diálogo de quando fechou, uma vez, o portão para idosos , impedindo que um cidadão passasse:

- Não pode passar aqui não!
- Mas tava aberto, e eu vou perder meu ônibus!
- Não tem problema, tem ônibus até meia-noite!
- Porra, por que não posso passar? Antes tava aberto!
- Tava aberto, agora eu fechei! Dá a volta!

A maldição deve ter atingido até a oitava geração da família do Santos.

VII

Quinta, 11/11, 13:13h, Cabral. Passava por ele pra continuar trabalhando e não sei por que tive que parar ali. Aí veio o Santos e me disse:

- Viu que assaltaram um piá agora há pouco?
- Não! Como assim?
- Nah, roubaram o celular de um piá ali na plataforma... segurei até o Guaraituba!
- Por quê?
- Sempre que algum roubo acontece, pode ter certeza de que o cara embarcou no Guaraituba/Cabral!

VIII

Sexta, dia 12, lá pelas 15:03h da tarde. Acabava os tubos e ia subir no biarticulado quando a porta 3 se abriu e me revelou uma tragédia: alguém tinha "aberto a marmita" ali, lavando a porta e o chão. Logo descobri quem era: um piá de colégio trêbado já no início da tarde.
Liguei para o Carçudo no Sta Cândida:

- Véi, tou no BD124 aqui, lavaram de vômito a porta 3. Vê aí se dá pra recolher essa porcaria, tá nojento isso aqui.

Fui até o motorista:

- Cara, vomitaram lá atrás, não abra a porta 3 nos terminais.

Voltei para descer no Cabral, o piá tava babando e parecia que ia largar mais strogonoff por ali. O que é não saber beber, tá louco...

IX

Nesse mesmo dia, o Santos contava como eram os tempos antigos de trabalho dele no Banestado e na Urbs. O que ele contava era digno de um livro, porém, tive que deixar o relato na metade para continuar trabalhando.
Quando voltei, perguntei ao Ítalo-Disco o que ele tinha contado a mais, no que ele me disse:

- Pô, Psicopata, na hora em que ele me falou que tinha sido receptador de carros roubados eu saí fora, né!

Será que eu estou mesmo trabalhando no lugar certo?

X

Mais umas frases que ouvi sobre a conversão do cartão para o novo sistema:

- Oi, como é que faz pra inverter o cartão?

- Licença, eu queria reverter o cartão...


Poema do dia:

Solidão

Se tudo o que eu te disse não adiantou
Se tudo o que eu chorei somente te secou
Não há mais nada que eu possa fazer

Se a luz do amanhecer, tua Lua, apagou
E a voz do enternecer somente te irritou
É hora de apenas parar de ser

E deixar pelo caminho
Apenas duas pegadas
E toda a solidão que nos tomou
Pois, se estávamos sozinhos
Era plena a madrugada
E agora o Sol absorve nosso ardor

Se o que eu ofereci, você só rejeitou
Se aquilo que eu pedi, você não me doou
Não há mais nada que eu possa querer

Se a estrada para o teu bosque se fechou
E meu refúgio você, sem pena, cercou
É hora de eu apenas parar você

Cristiano Tulio - 09/11/2010