quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Meet Me At The Corner

Olá, senhores leitores... poucos, porém, fiéis. Há tempos que não tinha nem tempo, nem ânimo, nem um bom tema para dissecar aqui neste modesto espaço.

Entretanto, hoje, ocorreu-me um. Surrado, sovado, batido, quase morto... mas, por outro lado, mais vivo do que nunca atualmente: as redes sociais.

Primeiramente, para que se entenda melhor o que quero dizer, melhor explicar de onde surgiu o tema... assim, posto, para quem quiser, o link de um vídeo que fala sobre "motivos para abandonar o Facebook": http://www.youtube.com/watch?v=5AyfZFfLel0

São 6 minutos que fazem pensar em vários sentidos, dizendo um tanto de verdades. Em suma, apresenta vários motivos para que os indivíduos deixem de utilizar essa "ferramenta social".

Todos que me conhecem sabem que eu sempre detestei Orkut e Facebook pela superficialidade dos contatos, pela inutilidade de vários comentários, pelas falta de privacidade, etc.. No entanto, dessa vez, após ver esse vídeo, venho, de certa forma, defender as redes sociais.

É, é isso mesmo.

Tudo o que o autor da mídia explana é válido, sim. Muita gente usa as redes sociais para bisbilhotar a vida alheia, para seus fins egoísticos e interesseiros, e asism sucessiva e critica e alienadamente.

Por outro lado, um fenômeno que venho observando é que, muitas vezes, amizades que se perderiam com o tempo, contatos que deixariam de existir nesse mundo cada vez mais apressado, "globalizado", individualizado, inchado e cansado, tendem a continuar ou retornar à ativa por meio dessas ferramentas.

Alguém já se sairia com a insigne frase: "mas isso mina a possibilidade de encontro das pessoas, os contatos ficam superficiais e você não mais as vê".

É um fato, mas não tão trágico. Em incontáveis oportunidades, voltei a falar com pessoas, a aquilatar laços, a partir de uma simples mensagem, depois de tempos sem contato. Qual o problema com isso?

O autor também fala que todos estão julgando você, suas fotos, suas escolhas, seu perfil. Elas fazem isso o tempo todo, queira você ou não, pessoalmente ou por internet - verdade seja dita! De outra vista, já tive oportunidade de aprender coisas novas com o que as pessoas colocam no perfil, com o que escrevem, com o que pensam. O Facebook acaba sendo, muitas vezes, um local de desabafo.

E os eventos? Usados erroneamente, são catastróficos. Usados corretamente, proporcionam uma chance de marcar encontros, de estabelecer festividades, e assim por diante.

Enfim, o que quero dizer, é: vivemos dizendo que devemos fazer as coisas certas (que devemos ver-nos mais pessoalmente, manter contato por telefone, etc.) mas jamais o fazemos. Sempre temos conosco que o tempo é sempre curto demais para nós mesmos, que dirá para que o gastemos com os outros?

Gostaria de que as pessoas se encontassem mais, conversassem mais, se disponibilizassem mais. Mas, enquanto isso não acontece (se é que, um dia, nossa geração "foda-se você, viva eu" vai chegar a fazer isso), por que não usar esses meios virtuais de forma positiva e saudável?

Sei lá, é o que eu penso.


Causos do Transporte Coletivo:

I

01/08, Term. Cabral. Iniciando bem o mês, tudo corria de forma lépida e faceira, quando uma usuária de igual feitio achegou-se, às 15:59h, e perguntou:

- Viu, tem catraca de saída ali para a frente ou eu tenho que vrããããããã??? (fez com a mão o gesto de descer o túnel e sair pelo outro lado).

É, é tipo o tchum... são sinônimos!

II

Dia 03 de Agosto, quarta-feira, mesmo Cabral. Outro passageiro perdido tentou se achar, às 13:55h:

- Para ir pro Campina do Siqueira, onde é o Interbairros II.
- Ali perto da porta vermelha, do outro lado.
- E sentido contrário?
- Na outra ponta daquele mesmo lado.
- Era esse mesmo que eu queria, obrigado!

Então, por que, meu Deus, POR QUE... não perguntou logo???

III

14/08/11. Domingo. 14:18h. Escoavam as areias do tempo entre meus dedos, quando uma senhora se aproximou e desferiu:

- Você tem o horário daquele Califórnia/Bradesco?
- Banestado/Califórnia, não é?
- É, é tudo igual, tudo banco!

Pega qualquer um, é tudo ônibus!


Poema do dia:

Que Me Dizes?

Que me dizes? Não te escuto
Pois dissolvem-se no ar
Tuas palavras de augúrio
Ao tocar o meu pesar

Que me dizes? Não te entendo
Pois apagam-se no tempo
Tuas murmúrias e lamentos
Não chegam ao meu Olimpo

Quando chegavam, eu quisera
Tomar-te em meus braços
Fazer, do inverno, primavera
E deitar-me em teu regaço

Mas, agora... que me dizes?
Já nem quero me ocupar
Daquilo que as cicatrizes
Não mais me fazem lembrar

Cristiano Tulio - 16/08/2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Lyin' Eyes

   Fico irritado com a "cara de pau" das pessoas, em certos momentos. Lembrou-me agora aquele episódio da escrivã que foi revistada à força por um delegado, alegando que não possuía consigo dinheiro advindo de corrupção. Ao ser revistada, a bufunfa foi encontrada, e ela se saiu com essa: "Esse dinheiro não é meu".

   Falo disso porque, ontem, uma passageira foi extremamente descortês e obtusa com uma operadora do sistema de transporte coletivo. Destratou-a severamente porque ela não possuía troco pra 50 reais (sendo que o troco máximo, de acordo com o regulamento, é de 20 reais). Ainda bem que outros usuários vieram a defendê-la, oferecendo-se como testeunhas contra a mal educada senhora.

   Há quem se porte da maneira errada e ainda ache que tenha direito de se enervar. Quem faça errado e ainda queira esbravejar contra quem revelou sua iniquidade. Quem cometa crimes e ainda se veja no direito de ficar impune.

   Não é à toa que essa inversão de valores, essa dissociação entre moral e justiça, nos leva à concepção de um país de diferenças tão abissais, de desorganização assaz imensa e de população tão alienada. E nós, como bobos da corte, agradamos aos reis para que estes não nos cortem as cabeças, sendo que, de uma forma ou de outra, eles riem de nossas desgraças.

   Quiçá, um dia, o povo acorde, e faça as coisas funcionarem. Entrementes, enquanto se portarem de forma semelhante àqueles que criticam, nada vai se alterar.


Causos do Transporte Coletivo:

I

Dia 18/05, Term. Cabral. Estava para ir para o Guaraituba, e logo escutávamos de um usuário que um dos motoristas da linha Cabral/Portão estava "furando ponto" (ou seja, deixando os passageiros no ponto). Ligamos para a CCO e relatamos o fato. Não me lembro quem lá estava, porém, depois da denúncia, saiu-se com essa:

- Mas foi o motorista da tabela que te falou?

É, é.

II

Dia 22/05, domingo, Term. Sta Cândida. Estava cuidando dos biarticulados, no final de um dia meio atribulado, quando, às 17:44h, o motorista se aproxima e diz:

-  Um passageiro acabou de vir até mim e disse que chegou ao Term. Santa Quitéria!

Viramos Curitiba de ponta-cabeça no domingo, só pode...

III

Dia 23/05, Term. Cabral. Começando bem a semana, um animado futuro passageiro da linha Tamandaré/Cabral pergunta-me:

- Onde eu pego o Tamandaré/Cabral?
- Ali no meio... você passa pelo túnel e é ali perto da bilheteria de entrada, do lado esquerdo.
- Ah! Então eu passo por aqui e tchum!?

Isso aí, e tchum!

IV

Dia 26/05, gloriosa quinta-feira, Term. Cabral. Estávamos na guarita o supervisor e eu, quando nos procura um ser, às 14:02h:

- Eu queria ir até a R. Erasto Gaertner.
- Que altura?
- Não sei!
- Não é na Auto Peças Alvorada, essa aí do folheto na sua mão?
- Ah, é, é aí mesmo!!!

Tem gente que não sairia de um labirinto nem com um mapa.

V

No mesmo dia 26, mesmo bat-local, às 13:03h, conversava com o motorista do Colina Verde:

- ...pois é, o que houve ontem com o outro carro da tabela?
- Quebrou, daí eu vim cheio.
- É, ontem foi o dia dele... de repente logo é o seu.
- Nada, esse carro é o melhor de todos!

Logo, no horário seguinte, o carro não apareceu. No dia seguinte, o condutor veio me dizer:

- Mas você hein! Ontem uma mulher passou mal e tivemos que cortar uma viagem!

Quando eu digo que mando naquela budega, eu não tou mentindo...

VI

Ainda no pretérito dia 26, uma usuária queria saber como chegar ao Boqueirão, às 17:09h:

- O Inter 2 passa no Boqueirão, né?
- Mas ele vai pro Hauer, na verdade...
- Hauer é Boqueirão!

Uma coisa é uma coisa, outra coisa...

VII

Saí de férias, voltei dia 02/07. No sexto dia julino, já atuava eu no Term. Sta. Cândida. Lá pelo final da tarde, o GD343 chega uns 5 minutos atrasado, sendo que o da frente havia se envolvido em sinistro. O motorista, esbaforido, me conta:

- Porra, cara, cheguei atrasadão porque peguei os passageiros do carro que bateu. Daí, os passageiros se pegaram na porrada porque um cara tentou assaltar alguém lá... saíram no braço mesmo!

Teria que ser criativo demais pra inventar tanta desgraça junta!

VIII

Dia 12/07. Laborava no Terminal Cachoeira, quando, lá pelas 16:30h, observo uma menina de uns 10 anos e seu irmão menor, com uns 8 (imagino) passando. Ela segurava umas 6 ou 7 sacolas; ele ia com duas - uma em cada mão. No meio do trajeto, qualquer coisa caiu. Aí, se deu o seguinte diálogo, começando com a menina:

- Pega ali, que caiu!
- Pô, não ta vendo que eu tou com as mãos ocupadas?

Ela, sem paciência, pegou o objeto do solo mesmo com aquele monte de pacotes na mão, e ainda arrematou, em voz alta:

- Mas é um monte, mesmo!

Ri desabridamente.

IX

Hoje, 18/07. Depois de um dia confuso, trabalhava nas estações tubo e, às 16:24h, cheguei à E.T. Fernando de Noronha, sentido Centro. Conversava com a operadora e assinava a ficha, quando duas senhoras se aproximaram para entrar. Logo, a senhora que estava atrás, com pressa (visto que o ônibus recém encostara), falou à outra, que ia encostar o seu cartão:

- Viu, eu não sei se a senhora vai pegar esse ônibus, mas me deixe passar que eu quero pegá-lo!

Dispensa comentários.

X

Aqui, algumas pérolas para vocês, passadas por alguns colegas (grazie, Guilherme e Meier!):

"Queria ir na Erastogether" (Erasto Gaertner)
"Pegar o Fliperama" (Futurama)
"Onde passa o Raul Solange? (Ahú/Los Angeles)
"Pra Vila Fênix?" (Vila Fanny)
"O ponto do Capitão Mafra?" (Carbomafra)


Poema do dia:

E Tu, Quem És?

Gostava de ti
Gostava do quanto gostavas de mim
Gostava, pois sim

De pensar no quanto me amavas
No fim
Não era o que eu vi

Gostava, de ti
Esperava a prosa e o verso e, assim
Em ti, me escrevi

Julgava sentir
Que esperavas o dia todo o meu vir
Do mundo que eu fiz

Pros teus sentimentos tocarem
Meus rins
E eu, querubim

Gostava, de ti
Esperava todo o universo e, assim
Em mim, me perdi

Eu acho mesmo é que eu gostava de mim

Cristiano Tulio - 15/07/2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Kill The President

Não, o título concedido ao post de hoje não faz apologia ao terrorismo contra qualquer chefe de Estado (depois do que aconteceu com Bin Laden, decidi cancelar a compra da série sobre acidentes aéreos pela qual me interessei). Tampouco representa propriamente um desejo de eliminar toda e qualquer forma de "cracia" encontrável no mundo atual ou antigo (afinal, a anarquia exigiria seres humanos sumamente inteligentes que soubessem cada qual o seu lugar na construção de uma sociedade perfeita, digamos).

A idéia é, objetivamente, refletir sobre alguns epísódios que tiveram lugar nesse alvorecer do governo petista de Dilma Rousseff. Dispenso-me de discutir os méritos de tal administração - afinal, para seus fiéis lacaios, sempre tudo estará bom, enquanto que, para seus opositores, nada prestará - ; porém, gostaria de lançar alguns questionamentos, tomando por base alguns fatos de que tomei ciência recentemente.

Ao visitar meus colegas de trabalho em meu antigo estágio, na Procuradoria Federal no Estado do Paraná, fiquei horrorizado ao descobrir que o Governo Federal não está pagando as empresas terceirizadas. Os funcionários destas já estão sem receber há 4 meses, mais ou menos. Diz-se que os atrasados virão em pagamento retroativo (contudo, duvido que contenham o juro e a correção monetária devidos).

Achei que parava por aí. Ledo e crasso engano. Hoje, uma colega de serviço relatou-me que os monitores bolsistas da UFPR também estão sendo privados de seu estipêndio - sendo pode-se afirmar, sem risco de exagero, que alguns deles dependem desse dinheiro para sobreviverem.

Tudo isso se deve à ordem da Sra. presidente (e não presidenta, visto que presidente é substantivo comum invariável no gênero - em outros termos, presidenta NÃO EXISTE) de "apertar o cinto". Acho que, realmente, devemos apertar o cinto, porque o piloto sumiu!

Se o Poder Público alega estar endividado, por que não enxuga seu quadro de cargos comissionados? Por que os deputados e senadores aumentam em 50% seus próprios salários? Por que não regulamentam o Imposto sobre Grandes Fortunas (vide posts passados), previsto na Constituição Federal?

A resposta é óbvia: Dilma não quer jogar contra seu time, mas quer fazer caridade com o chapéu alheio. Ajeitar as contas deixando de pagar aqueles que trabalham é, absolutamente, uma violação da Carta Magna em sua integralidade. Uma minimização dos direitos fundamentais das pessoas que dependem desses pagamentos. E, por fim, uma hipocrisia quanto à filosofia propalada pela "esquerda" brasileira.


Causos do transporte coletivo

I

Dia 25/04, segunda-feira, 13:42h, Term. Sta. Cândida. Chegava ao final a primeira parte da jornada do BD135, tab. 15 da linha Sta. Cândida/C. Raso. Daí, o veículo vai para a garagem reabastecer e volta a operar.

Não foi o que pensou uma usuária. O carro esvaziou, o motorista selecionou o letreiro "Recolhe" e foi ao banheiro. Nesse meio tempo, a potencial passageira entrou no ônibus e sentou-se, esperando a saída. Devia estar extremamente feliz de encontrar-se totalmente sozinha no veículo (dia de sorte!)... quando o motorista (que não a viu) fechou as portas e saiu, ela deu por si e percebeu a cagada. Logo, saía pela porta de emergência, antes que se deleitasse com uma viagem até a garagem da Glória.

II

26 de abril, terça. Assisti ao recorde de latas velhas VDs na linha do Sta. Cândida/C. Raso: 8 veículos ao longo do dia. Atrasos, que nada! Se eles chegassem era lucro!

III

No dia posterior, 28, estava conversando com um dos guardas que faz a segurança do Terminal Sta. Cândida. Eram 17:06h e, enquanto conversávamos, ele veio com a pérola:

- Esse programa sim está à minha altura!

Ele assistia à TV de cima da plataforma.

IV

Lembra da mulher que embarcou no carro que recolheu? Parece que virou febre: às 16:46h do dia 05/05, no Term. Maracanã, uma outra pessoa do sexo feminino embarcou no 18G27, que fazia a linha Maracanã/Sta. Cândida e foi recolhido por conta de um pneumático furado. Detalhe: o ônibus parou do lado oposto ao do embarque e também estava com a inscrição "Recolhe" luzindo no painel eletrônico. Seria uma síndrome da solidão no transporte coletivo?

V

07/05, voltamos ao querido e atribulado - mais isso do que aquilo - Sta. Cândida. Véspera de Dia das Mães, sabe como é... pois bem: o CA011, que fazia a linha B. Alto/Sta. Cândida, começou a atrasar. Primeira viagem, 8 minutos. Segunda viagem, 22. Falei com o motorista e ele disse que o carro era ruim, que o tempo era curto, que a pista era uma droga... achou que ia me levar no bico. Disse que cortaria sua viagem quando completasse uma de atraso.

Sim, ele perdeu uma viagem inteira rodando! Chegou com 37 de atraso na terceira, e foi devidamente suprimido (não o motorista, mas o deslocamento, purtroppo!). E dá-lhe usuário reclamando na minha orelha... resolvi pedir a troca de ambos, carro e condutor.

Porém, a Sto. Antônio Urbana sempre tira um coelho da cartola: trocou apenas o carro, deixando o motorista. Tinha tudo para dar errado; entretanto, a emenda saiu melhor do que o soneto: o atraso fixou-se em 20 minutos e assim foi. Melhor do que nada.

VI

11/05, Term. Cabral, 10:36h da manhã. Estávamos fazendo hora extra por conta de uma pesquisa. Calculem que eu odeio acordar cedo, por isso trabalho à tarde... e acordar às 04:40h não me deixa nem um pouco bem humorado. Porém, as coisas podem, piorar. No horário citado alhures, uma senhora bateu no vidro do biarticulado parado, em que sua amiga já havia tomado assento, dizendo:

- Maria, me liga pra me dizer qualquer coisa!

Dispensa comentários.

VII

15/05, domingo, Term. Maracanã. O dia transcorria tranquilo e modorrento quando, às 14:00h, o monitoramento de Colombo pára um carro próximo ao terminal. Abrem o porta-malas, um mala sai de trás algemado e acompanha os guardas municipais. Dirigem-se ao barranco próximo à rua lateral, procuram por alguma coisa (drogas, provavelmente), nada acham. Logo, voltam e começam a andar pela calçada.

Foi aí que se deu um dos lances mais incríveis que eu já vi. O mala, astuto como um tonto, distanciou-se dos guardas e passou a andar um pouco à frente. Ao abrir espaço de 5 metros, deu uma olhada para trás e largou num pinote desenfreado, mesmo de algemas! O guarda bem que tentou, mas não conseguiu alcançá-lo jamais! O suspeito então correu até dar uma volta no Terminal, momento em que, só então, o outro guarda catou o carro para persegui-lo.

Ou, depois, mostraram o saco pro piazão, ou essa história vai se tornar lenda na cultura da cidade de Colombo.

VIII

Logo após, eu pegava o Maracanã/Sta. Cândida para voltar à civilização - digo, a Curitiba (e nem sei se essa distinção é assim tão válida). No meio do caminho, às 15:08h, uma usuária acena para o motorista, que não pára. Então ela começa a gritar, xingar e apontar para um ponto, provavelmente alegando que o condutor devia deixá-la embarcar.

Entretanto, apontava para um ponto de táxi.


Poema do dia:

De Repente

Tédio, tédio... tédio sideral
Tanto espaço-tempo e tudo é tão banal
Nascido micro, é infinito, e morre pontual

Credo! Dizem os ateus na aflição
De saber que nem tudo tem explicação:
A Quântica não diz por que, o gato, cão é não

Morrer sem saber das maravilhas
Que o pensar faz escapar da mente
O raciocínio é, do navio, a quilha
Do paraíso, a pérfida serpente
Um passo atrás para um passo à frente

Nego tudo... afirmo até o final
Que nada existe, e nadamos no irreal
Até que o anoitecer traga a aurora boreal

Morrer sem saber das maravilhas
Só de pensar, eu caio bem doente
Pois toda essa ansiedade peralvilha
Dá-me o poder de quedar impotente
Perante a precisão do "de repente"

Cristiano Tulio - 17/05/2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Player In The League

Hoje, escolhi para pensar sobre um tema óbvio, porém, muito importante atualmente. Trata-se da violência recrudescente em relação às partidas esportivas - notadamente, as de futebol.

De começo, mui importante ressaltar que o esporte - tomado como gênero - é caracterizado por habilidade, treino, raça, etc.... mas também - e sobretudo - pela sorte. Em outras palavras, é um evento de prognósticos.

Assim sendo, tudo pode acontecer. Inclusive, esse é o encanto do desporto. Ademais, mais do que nunca, essa regra é válida para o futebol. Basta ver as grandes zebras das Copas do Mundo: Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra em 1950, Camarões 1 x 0 Argentina em 1990, Alemanha 3 x 2 Hungria em 1954, e assim sucessivamente.

Se assim acontece - e, aqui, chegamos ao ápice da ideia - , por que (mas, raios, por quê!), ao provocar tantas paixões, precisa também provocar tanta disputa, beirando as raias da agressão física e mental entre seus aficcionados?

Entrementes, essa não é a questão central. O foco é outro, e por um motivo simples  (inclusive, já por mim constatado junto aos "torcedores" dos três principais escretes da capital curitibana: o que está em voga não são os times, mas, sim, a própria pancadaria.

Explico: o esporte aparece, nesse caso, como mera motivação/justificativa para a selvageria, a barbárie. Funciona como uma divisão em clãs (muito popular entre as camadas de jovens de "classe baixa" - ou, calçudos) onde o clã mais forte vence os outros. Em suma: os times são apenas pretexto para que uma guerra tenha início. É a volta aos primórdios da "civilização", porém, sem o motivo que os fazia agir assim há milênios.

Obviamente, a divisão em castas, classes (ou qualquer coisa que o valha) é uma constante da sociedade através dos tempos... no entanto, nunca me pareceu tão patente que essas organizações serviriam a um fim tão inútil em si mesmo, tão desprovido de sentido. Modernidade, eis aqui teus filhos.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 12/04, Term. Cabral. Tudo fluía normalmente até que, sem mais nem menos, o motorista do DR106, Interbairros II (Anti-Horário), chega até mim na guarita e diz:

- Tem como recolher o carro? Não dá pra continuar, a porta 4 caiu!

Não acreditei, corri até lá. De fato, se não tinha mesmo caído, estava quase a ponto disso, um tanto inclinada e completamente torta. Bendita seja você, licitação, o estandarte da mudança!

II

Dia 13/04, quarta-feira, mesmo local. Às 15:06h, um passageiro entra confuso na guarita e pergunta:

- Onde que pega pro Parque Tanguá? ...ou Tingüi? Ou Tinguá! Algo assim!

Trocadalhos do carilho, viu?

III

Mesmo dia, mesmo Term. Cabral. Outro usuário (não sei se de drogas ou do transporte coletivo), esbaforido, utilizando da técnica da psicologia da inversa (vide último post), questiona-me:

- Pra ir pro Capão da Siqueira?

Algumas pessoas realmente não têm geoção nográfica.

IV

Ainda no dia 13, o motorista que faz a linha São João me sai com essa, às 16:45h:

- Que feio, a Polícia Militar dando mau exemplo!
- Como assim?
- É, eles vão falando no celular, enquanto dirigem os cavalos...

A cavalaria havia acabado de passar.

V

20/04, quarta-feira, Term. Barreirinha. Chega um passageiro e pede, às 16:28h:

- Onde que pega o Fazendinha/São José?

A Urbs anda criando novas linhas e nem me avisa...


Causos de mesa de bar:

Madrugada de 21 para 22/04. Eu e mais 4 amigos numa mesa de bar, no Shadows. Depois de umas cervejas, nada mais natural do que a confecção de pérolas verbais desse naipe:

I

- Essa foto tá bastante legível...

(Uma moça, fazendo propaganda de seu recente livro "A Arte da Leitura de Imagens").

II

- Deus fez as irmãs pra gente não pegar as primas!

(Um amigo, invertendo a lógica do velho deitado)

III

- Você corta várias cestas básicas e faz uma caneleira!

(Outro amigo, sobre o processo de fabricação de artigos esportivos na Mike)


Poema do dia:

(Esse eu rabisquei enquanto trabalhava, na quarta-feira...)

Triste Coincidência

O mundo que fala, vê e escuta
É cego, surdo e mudo
Àqueles que não o fazem

Triste coincidência
Aqueles que podem tudo
Frente aos que não podem, são incapazes

Cristiano Tulio - 20/04/2011

domingo, 10 de abril de 2011

The New Disease

   "...depois que Michel, jogador do Vôlei Futuro, "descobriu" sua homossexualidade e foi hostilizado pela torcida do Cruzeiro no primeiro jogo, em Belo Horizonte."

   Estava na fila do caixa rápido do supermercado Big, unidade do São Braz, às 21:38h do dia 08/04, sábado, ao ouvir essas palavras. Era veiculada uma reportagem sobre a atitude do time de voleibol "Vôlei Futuro" de usar camisas coloridas ao jogar contra a esquadra cruzeirense pela segunda vez.

   Súbito, lembraram-me várias personalidades que assumiram a sua homossexualidade: Elton John, Ricky Martin, Clodovil, etc.. Todas essas revelações tratadas com estardalhaço e deslumbramento pela mídia... um respeito disfarçado, em verdade. Lembrou-me, ainda, um dito de um primo meu, que postara no Twitter há alguns dias: "Os homossexuais só serão respeitados em algum lugar, quando lésbicas aceitarem serem chamadas de lésbicas, bichas aceitarem serem chamados de bichas, sapatões aceitarem serem chamadas de sapatões, isso sem ficar choramingando pelos cantos."¹

   Em que  pese a ideia não estar perfeitamente formulada, tudo isso me levou a uma conclusão óbvia, porém, encoberta pelo infindável alarde com que esse assunto é tratado: os homossexuais serão levados a sério apenas no dia em que assumir essa condição passe a ser encarado como um fenômeno normal, sem causar rebuliço ou reações exacerbadas de quem quer que seja.

  O que existe, de fato, é uma grande, enorme hipocrisia em relação a isso. O homossexual é visto como um ser diferente a quem se deve proteger. Há todo um trato presumidamente taciturno em relação ao assunto; porém, com uma ponta de sarcasmo. Um beijo gay numa novela, sempre vetado pelas emissoras? O sucesso do filme "O Segredo de Brokeback Mountain"? Como encarar como natural uma coisa que vem sendo, continuamente, anunciada e coberta pela imprensa com matizes das mais brilhantes e sons dos mais retumbantes?

   Creio que o homossexual sério deteste toda essa balbúrdia em seu derredor; essa coisa de "parada gay" é apenas para chamar a atenção. Claro, não se pode desprezar a máxima jurídica "tratar desigualmente os desiguais em sua desigualdade". No entanto, quando que isso realmente será considerado comum?

   Isso sem contar o sentimentalismo exagerado dos dias de hoje... mas isso já é assunto para um outro texto.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 04/03, seguinda-feira, Term. Cabral, meu retorno ao serviço normal. O dia transcorre sem maiores sustos quando, às 16:03h, um usuário entra na guarita:

Queria fazer o cartão Urbs da "Ubs"!

Seja lá o que isso for!

II

Nessa mesma segunda, lá pelo meio da tarde, uma donzela com muita graça e donaire tinha vindo pedir informações ao meu colega e a mim, na guarita. Ao sair, abriu um sorriso simplesmente perfeito; era linda.
Mais tarde, pelas 16:50h, comentávamos sobre ela, quando meu colega disse:

- Tava na hora de vir o carro da "sorriso" e ainda não veio.

Eu, completamente absorto, respondi:

- Ué, mas é a (Cidade) Sorriso que tá fazendo a linha?

Mal voltei ao trabalho e já estou esclerosado.

III

Quarta, dia 06/04, 13:35h, Cabral velho de guerra. Uma usuária veio nos pedir como chegar à Pç. Rui Barbosa. Orientamo-la e, logo que esta saiu, meu colega comentou comigo:

- Se bem que a Rui Barbosa é um lugar meio confuso assim...

No que a usuária, que já estava a uns 5 metros de distância, respondeu:

- É...

Quando viu que não era com ela, saiu ligeiro.

IV

Ainda na quarta, às 13:45h, uma outra passageira veio perguntar-nos:

- Onde pega o Colina Verde que vai no Peru?!

Rua Peru, diga-se de passagem.

V

Dia 08/04, sexta-feira, Term. Cabral again. Estávamos fazendo um trabalho especial com o Interbairros II, sendo que eu estava controlando o sentido anti-horário e, meu colega, o horário. Entretanto, anotava os do sentido horário também em meu relatório.
Logo, às 13:04h, pedi a ele algumas tabelas:

- Me vê o tabela 20 e o tabela 1.
- Não tenho o tabela 21.

Quem é o esclerosado mesmo?

VI

E, enquanto empenhados nesse serviço de controle, nessa mesma data e local, às 14:34h, uma passageira chegou até nós perguntando:

- Inter 2, sentido Campina da Imbuia?

Será que ela tinha ideia de onde queria chegar?

VII

Pouco depois, ainda no mesmo dia, observava meu colega reunindo os relatórios dos demais colegas para entregá-los ao supervisor, que estava apenas de passagem num ônibus. Logo, olhando o campo "Tempo" de um dos relatórios (o qual é preenchido sempre com "Nublado", "Bom/Ensolarado" ou "Chuvoso"), percebi que o matuto havia escrito "Céu com poucas nuvens". Não é à toa que este é seu apelido.


Poema do dia:

Mortui Non Mordent

A mente cansada e pressurosa
Ansiosa e hesitante
Cria, de súbito, o além
Espíritos, vozes, mistérios
Os quais dominam suas prosas
Aterrorizam seus instantes
E essa manhã que não vem
Com seu efeito deletério

Pois a noite é a verdade
Esse mundo é o que lha guia
Pelo que vai acontecer
Pelo que se foi, mas permanece
E, sofrendo co'a eternidade
Intermitente em noite e dia
Sente-se, logo, perder
A noção entre razão e prece

Criatura supera o criador
O plano vai além da consciência
Transformando-se em ilusão
Definindo o ilimitado
E, aí, sem cuidado ou pudor
Começa uma tênue demência
Que pode vir a ser perdição
Ou, tão-somente, o escuro lado

Cabe ao ser extinguir
Ou deixar viver o devir
Dos que jamais descansarão

Cristiano Tulio - 25/03/2011


Referências:

1 - http://twitter.com/#!/gustavosvaz, tweet do dia 06/04.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Federal Funding

Complementando um assunto que eu já tinha abordado no mês passado, algumas reflexões sobre os vários episódios de corrupção na história recente do país, com a correlata (ausência de) reação da população.

Ocorreu-me tal mote ao voltar a atuar no cadastramento do passe escolar, benefício extremamente restrito aqui em Curitiba. Vejo que, sempre que as pessoas não conseguem a vantagem, ou conseguem-na a duras penas (voltando três, quatro, cinco vezes para reunir toda a documentação necessária), queixam-se de tanta burocracia e reclamam das disposições legais e dos governantes.

Está aí uma coisa que não entendo: as pessoas tomam como ouvidores pessoas que nada podem fazer por elas e, quando chega a hora de mostrar a sua indignação nas urnas, acabam elegendo sempre os mesmos néscios que dificultam as vidas delas!

Rememorem-se os vários escândalos que tiveram lugar nos últimos anos: mensalão, desvios de verbas, tráficos de influência, abusos de poder econômico... crimes que acontecem diariamente e que são ignorados ou minorados pela leniência e pela tolerância franciscana do povo brasileiro.

Quando uma das falcatruas espouca na mídia, curiosa a "reação" dos brasileiros: fazem troça do ocorrido, praguejam baixo contra o governo, imaginam-se na mesma situação. Como podem fazer piadas sobre a própria desgraça sem tentar ao menos uma mudança que melhore suas vidas????

Não é o caso de dizer "se hay gobierno, yo soy contra". Porém, se fosse num país de "primeiro mundo", o povo sairia às ruas quebrando tudo, fazendo valer seus direitos de eleitores e pagadores de impostos; clientes daquele contrato que Hobbes nos fez firmar em teoria. Já aqui, os Justus, os Lupions, os Sarneys e afins perpetuam-se no poder como pelintras cujas más ações são respaldadas por nós, povo ignorante que a eles confia a direção de parte de nossas vidas.


Causos do transporte coletivo:

Estava eu procedendo com a fiscalização do Term. Cabral, próximo ao ponto do Inter 2, sentido Capão da Imbuia, quando, às 16:08 do dia 12/02, ouvi uma usuária dizer:

- Esse aqui não é o sentido Garçom da Imbuia?


Causos do passe escolar:

I

Dia 02/02, durante a tarde. Veio uma pessoa atualizar seu cartão de usuário no posto do passe escolar. Não era para fazermos, mas, como o movimento não era grande, às vezes conseguimos.
Queria essa pessoa que atualizássemos um cartão de um terceiro:

- Queria atualizar também esse cartão aqui.
- Preciso de um documento de identificação dele.
- Sério?
- Sim, senão não posso fazer a conversão.
- Então vou ligar no 156.
- Pode ligar. Aqui é só para o passe escolar; estou te fazendo um favor. Quer minha matrícula?

II

Mesmo dia, lá pelas 16:46h. Uma das estagiárias perguntou:

- Como é mesmo o nome daquele doce ? Quebra-dente?
- Hã?
- Aquele doce, lá!
- Ah, quebra-queixo...

III

Ontem, dia 26/02, à tarde, contaram-me que uma senhora que tinha vindo fazer o cadastramento (e conversado comigo, na primeira vez), retornou reclamando de que eu rira de seu contracheque (o que é um absoluto contrasenso) e ficou enchendo o saco de todo mundo enquanto seu processo era deferido.
Quando voltei, contaram-me a história, e o supervisor estava desconfiado dela.
Ao saber do acontecido, disse:

- Dê-me aqui esse processo.

Fucei até descobrir onde a megera morava: um condomínio que parece ser de alto padrão. Mandei pra visita... e agora sim eu vou ter motivos pra rir.


Poema do dia:

Par De Burros

Por onde anda meu amor
Talvez por onde andei
Ao procurá-la, sem temor
Temo onde cheguei

Por onde anda meu amor
Eu nunca saberei
Pois, se soubesse, meu pudor
Faria-me esquecer

Romântico inveterado
Para alguns, um viado
Para outros, cavalheiro
Par de burros, lado a lado
Meu sentimento apagado
E meu calculismo lampeiro

Por onde anda meu amor
Sempre longe de mim
Dizem-me sempre onde estou
Que não posso desistir

Por onde anda meu amor
Já não quero descobrir
Ela que vá para onde for
Que eu descanso, enfim

Cristiano Tulio - 22/02/2011

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

All I Have To Do Is Dream

Há uns dias, conversava com um amigo meu sobre coisas passadas. Ele disse:

- Caramba, eu jurava que você tinha falado que pegou uma professora lá. Colocaria a minha mão no fogo se alguem perguntasse. Só o que me falta é eu ter voltando a misturar os sonhos com as lembranças da vida real.

Ao que eu repliquei qualquer coisa e mencionei a canção do grande Raul Seixas (que se danem os que dele não gostam; toca Rauuuuuuuul!), O Conto do Sábio Chinês:

"Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...
 
Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...
 
Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês...
"

Quem sabe o que é sonho e o que não é? Curioso vermos, por exemplo, situações que pensamos estar vivendo enquanto no mais puro estado de inconsciência, como quando temos um pesadelo. Juramos que era real o que era sonho. Em outras ocasiões, cremos piamente tratarem-se de uma alucinação quando são mais reais do que qualquer outra coisa palpável e concreta. Exemplo, um grave acidente. Juramos que era sonho o que era real.

O que impressiona (e sempre, desde os tempos mais remotos, impressionou) o ser humano é a novidade, o surpreendente, o inacreditável. Daí a noção de sonho, visto que o nosso subconsciente (segundo a teoria psicanalítica) guarda as vontades e os desejos secretos, os quais seriam todos revelados/extravasados por meio daquele. Por outro lado, a noção de inalcançável de cada um é totalmente diferente, de forma que, por vezes, o sonho de alguns pode ser a mais pura realidade de outros. Confuso, não é?

"Still holding on
You know the trip has just begun"

Daí surgem as histórias, as lendas, as imprecisões e as dúvidas. Acabam se refletindo na história pessoal dos indivíduos e, em muitas oportunidades, pela fama do sonhador, na própria história que temos por mundial, em relatos muitas vezes cridos porém dificilmente comprováveis.

Seria toda a história um sonho? Seria a existência nada mais, nada menos do que uma miragem constante imposta à consciência?


Causos do transporte coletivo:

I

07/01/11, Term. Cabral, 14:02h. Procedia normalmente com meu labor quando, súbito, chamou-me a atenção um usuário que olhava estupefato para todos os cantos do terminal. Ia, voltava, e não conseguia decidir-se sobre a que lugar devia ir. Logo, descobriu-me e até mim veio. Ao adentrar a guarita, já desculpou-se:

- Dá pra ver quando alguém tá perdido, né!

É tanta gente perdida que não sei como eu notei.

II

Essa foi um operador que me contou no dia 24/01 (!), no Term. Cabral. Narrou que encontrava-se no ônibus da linha Colombo/CIC quando ouviu, por acaso, a conversa de um rapaz com trejeitos homossexuais ao celular:

- Amigo, agora eu tô pobre! Tô pegando a Urbs!

Sem querer ofender mas... tinha que ser um baitola mesmo!

III

No mesmo dia 24/01, após um dia estafante no Term. Maracanã, voltando para casa a bordo do 18L32, linha Maracanã/Cabral, conversávamos o motorista e eu quando, ao aproximarmo-nos da esquina próxima à empresa Penha, às 18:19h, avistamos duas moças numa moto, paradas bem em cima da linha horizontal que delimita o início da faixa de pedestres (e a área de segurança para que os carros não sejam atingidos por veículos de grande porte que façam uma eventual curva), esperando pelo sinal verde. O motorista, fazendo pouco caso disso, e ciente do que fazia, deu seta e realizou a curva. Quando as garotas se aperceberam daquele monstro de 16 toneladas vindo, começaram a recuar com a moto e...

- Aaaaaaah!

...um curto grito de susto teve lugar. O motorista, de forma calculada, passara a 15 cm delas e as meninas quase(?) se borraram de medo. Nos limitamos a rir, porque sabíamos que dificilmente elas farão essa bobagem de novo, depois dessa.

 IV

Terça-feira, dia 25/01, lá pelas 17:40h. Estava eu em treinamento para o passe escolar e, este já findo, fui à Central de Controle Operacional conversar com o pessoal. Logo, o meu colega do Norte liga e relata que o tubo do Colombo/CIC sentido Colombo, no Term. Cabral, havia travado com as portas fechadas. Ou seja, o pessoal tinha que abri-las na mão.
Logo, ligou de novo para avisar que tinha conseguido resolver o problema. Peguei o telefone:

- Aê, nega, se fodeu então, hahaha!
- É, essa porta é uma bosta. Mas já resolvi: peguei o Jornal de Colombo e entupi o sensor, aí elas ficam sempre abertas!
- Boa, bem dessa.
- Um dia esse jornal tinha que servir pra alguma coisa!

V

Dia 26/01, prédio central da Urbs. Estávamos ainda no segundo dia de treinamento para o cadastramento do passe escolar, quando colocaram alguém que nunca tinha mexido no sistema para explicar a nós e aos estagiários como usá-lo.
Palestra vai, palestra vem, o cara erra a inserção dos dados e aperta "editar": puf, apagou tudo. Rimos, embora saibamos que isso é normal uma vez ou outra ao lidar com essa budega. Mais 15 minutos, no meio de outro exemplo, o cara apagou os dados de novo.
Isso se repetiu por mais umas 5 vezes durante as explicações, pelo que eu e meus colegas simplesmente estourávamos de tanto riso. Até que ele decidiu copiar e colar os dados, ao que uma das supervisoras aplaudiu entusiasticamente:

- Êêêêêê!

Não me aguentei. Tive que sair do auditório para rir.

VI

Dia 30/01, Domingo, Term. Sta. Cândida, 12:42h. Chego e começo a trabalhar, sentado dentro da guarita, quando observo dois moleques jogando futebol empolgadamente, Dribles, toques, chutes, corridas e a maior diversão do mundo. Percebi mais tarde que um dos piazinhos estava com o pé direito descalço. Logo, percebi o que era bola: o chinelo estilo havaiana do mais novo.

VII

Mais tarde, na mesma data, horário e local supracitados, às 13:24h, notei que um piazinho começara a correr atrás de um dos pombos que circulam pelo terminal. Nada mais natural se o pestinha não tivesse promovido uma verdadeira caça ao pombo, jogando continuamente seu boné marrom em direção a este para tentar abatê-lo. Fico pensando se esse garotinho não se inspirou no desenho da caça aos alces, do Mickey, para executar semelhante empreitada.

VIII

Ainda lá no Sta. Cândida, às 17:00h aproximadamente, o guarda da Metropolitana e um operador chamaram as atenções minha e de um colega meu para um fato inusitado que gavia acontecido não distante dali: os passageiros de um ligeirinho começaram a descer no meio da via rápida, denotando que algo havia acontecido com o ônibus.
Não demorou para descobrirmos o que era: um Fiesta vermelho tentou subir a via rápida na contramão e chocou-se com o ônibus.


Poema do dia:

Anã Branca

Eu não quero mais saber
De você falando que me ama
Não quero mais te ouvir dizer
Que o seu coração jamais se engana

Eu não posso mais ficar
Só porque você não quer sair
Não posso mais, nem vou esperar
O nosso prédio em ruínas implodir

Pois todo o estupor
Somente se renova
Enquanto eu não puxo essa alavanca
Se um dia nosso amor
Foi uma supernova
Agora está para anã branca

E a verdade é que não dá
Porque, enquanto isso tudo é dito
Há tanta coisa para se mudar
E é isso que me deixa mais aflito

Cristiano Tulio - 06/01/2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

It Isn't What The Governmeant

Começo de ano... dava pra escrever aqui sobre oitocentas coisas... porém, sem pensar muito, minha escolha recaiu sobre a declaração de alguns líderes do poder executivo: precisamos enxugar a máquina estatal.

Parece óbvio, mas não é. A questão, na realidade, não é exatamente essa; apenas perpassa por essa alternativa.

O cerne do problema reside em outro campo: a eficiência e a eficácia do serviço público.

Observa-se, hoje, que a estrutura governamental é totalmente paradoxal: em alguns setores, sobram funcionários e falta serviço; em outros, o número de servidores é insuficiente e há muito o que fazer. Ou seja: precisamos de menos pessoas e de mais pessoas (!)

Isso não aconteceria se o serviço público brasileiro não estivesse atrelado a uma história de mamatas e maracutaias; se a reforma da gestão pública iniciada por FHC tivesse sido efetivamente implantada, com a tomada de índices de desempenho individual e coletivo nas repartições estatais; se, enfim os brasileiros levassem mais a sério a oportunidade de cobrar de seus administradores posturas mais ativas e, ainda, se dedicassem à melhoria do país de forma séria e bem intencionada.

Por isso, não será apenas o corte na abertura de novas vagas que fará com que o orçamento seja reequilibrado. Dever-se-á, ainda, enfrentar o desafio de modificar a organização e as metas do aparato estatal para que, aí sim, os governantes possam fazer com que o tesouro arque com um bom rendimento governamental.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 23/12, esquina da R. Tomazina com a Av. Anita Garibaldi, 12:16h. Havia acabado de passar pelo tubo Ahú e me dirigia ao Term. Cabral quando, sem mais nem menos, após a liberação do tráfego pelo semáforo, um carro prateado modelo Corsa hatch liga a seta para a direita e desce pela Anita na contramão. Achei que o motorista, logo que visse os demais carros vindo em sentido contrário, fosse se tocar... mas, que nada (salve Jorge Ben Jor)! Seguiu tranquilamente rua abaixo sem se aperceber da asneira que fazia...

II

Mesmo dia 23, às 12:22h, no Term. Cabral. Conversava com um colega de serviço quando uma usuária veio pedir-lhe uma informação.

- Queria ir até o Observatório (?) do Boa Vista...
- Quem???

III

Ainda no dia supracitado, na Estação Tubo Antônio Cavalheiros, conversava com um cobrador quando, às 14:38h, ele olhou para uma moça e disse:

- Lindos cabelos!

Olhei seco, achando que era uma gatinha... quando vi, era uma morena esquisita de cabelo armado e despenteado; acho que dava pra achar um Jumbo lá dentro.

IV

Dia 25/12, 16h, Term. Sta Cândida. Desfilava meu tédio pelo Terminal enquanto conversava com o porteiro, quando ele soltou:

- ... tipo, tinha um cara bem gordo, sabe... quase que tinha gravidade própria!

V

Ainda no Natal, dialogando com o mesmo porteiro, uma hora estávamos falando de música. Até que, ali por perto, um televisor transmitia a imagem de uma moça tocando Imagine no teclado. Citei o fato, ao que o porteiro replicou:

- Imagine... do Elton John, né!!!

John Lennon deve ter dado umas 15 voltas dentro do caixão.

VI

Dia 27/12, Term. Cabral, às 12:53h. Estávamos eu e mais dois colegas dentro da guarita, quando um deles comentou:

- ...estou com um atestado aqui, tenho que mandar lá pro administrativo.

Ao que o outro respondeu:

- Hum, achei que o atestado era da Sociedade Protetora dos Animais!

VII

Mais tarde, no mesmo dia e local, às 16:30h, conversava com um dos motoristas da linha São João:

- E aí, se preparando pro Ano Novo?
- Pois é rapaz... quero ver a queima de fogos no Rio!
- Ah é?
- Pois é... vou na beira do riacho e vejo só o mato queimando!

E depois:

- É, você sabe que andei me bronzeando esses dias...
- Ah, foi pra praia?
- Não, tava carpindo o terreno lá em casa, debaixo de Sol, torrei todo!

VIII

Dia 28/12/10, 13:55h, Cabral velho de guerra. Conversávamos eu, o porteiro e o guarda, e esses entraram a discorrer sobre as peladas que se jogavam por aí nos bairros da cidade antigamente. Foi quando o porteiro falou:

- Não, precisava ver! Ali atrás da garagem da Glória tinha um campo, e volta e meia ali tinha um clássico, sempre saía porrada: Jardim Roma e Vila Grécia!

IX

The last, but not the least: dia 31/12, às 16:18h, esquina da R. Domingos Strapasson com a Av. Ver. Toaldo Tulio. Estava eu em casa quando a luz acabou, de súbito. Dentro de 10 minutos, um amigo meu ligava:

- Polaco, você viu que o ônibus bateu no poste aqui????
- Como assim???

Fui até lá. O MC861, linha Fernão Dias, acertou o poste após uma tentativa malograda de vencer uma curva, derrubando-o e acabando com o fornecimento de energia elétrica de metade do bairro, além de bloquear a sua principal avenida. Disse o motorista que foi fechado mas, após, confirmei com uma testemunha que ele se perdera sozinho na curva.

Liguei para a CCO e comuniquei-a do fato. Mais tarde, apareceram os empregados da Copel, um dos quais, após olhar o estrago, proferiu as seguintes palavras:

- Filha da puta!!!

A luz voltou apenas ás 21:30h. Certamente, não foi um bom Ano Novo pro motorista, nem pros funcionários da Copel...


Poema do dia:

Devaneio Padrão

Viajo sem destino em meus pensamentos
Momentos de reflexão e de desatino
Desacato do recato, pente fino do ladino

Destravo a memória enquanto retenho
Tudo o que vejo - oh, tarefa inglória
De esquecer da vida pra lembrar da história

Pare, que eu vou passar
Em direção a nenhum lugar
Siga, que eu vou ficar
Esperando para poder continuar
Em busca do que nunca vou achar

Divido e subtraio, multiplico e somo
Elevo ao quadrado e chego - não sei como
Ao zero absoluto, ao infinito sem retorno

Pare, que eu vou cruzar
A avenida em meio ao deserto
Siga, que eu vou esperar
Ficando sem poder sair de perto
Do espaço entre o Sol e o luar

Cristiano Tulio - 31/12/2010