domingo, 27 de fevereiro de 2011

Federal Funding

Complementando um assunto que eu já tinha abordado no mês passado, algumas reflexões sobre os vários episódios de corrupção na história recente do país, com a correlata (ausência de) reação da população.

Ocorreu-me tal mote ao voltar a atuar no cadastramento do passe escolar, benefício extremamente restrito aqui em Curitiba. Vejo que, sempre que as pessoas não conseguem a vantagem, ou conseguem-na a duras penas (voltando três, quatro, cinco vezes para reunir toda a documentação necessária), queixam-se de tanta burocracia e reclamam das disposições legais e dos governantes.

Está aí uma coisa que não entendo: as pessoas tomam como ouvidores pessoas que nada podem fazer por elas e, quando chega a hora de mostrar a sua indignação nas urnas, acabam elegendo sempre os mesmos néscios que dificultam as vidas delas!

Rememorem-se os vários escândalos que tiveram lugar nos últimos anos: mensalão, desvios de verbas, tráficos de influência, abusos de poder econômico... crimes que acontecem diariamente e que são ignorados ou minorados pela leniência e pela tolerância franciscana do povo brasileiro.

Quando uma das falcatruas espouca na mídia, curiosa a "reação" dos brasileiros: fazem troça do ocorrido, praguejam baixo contra o governo, imaginam-se na mesma situação. Como podem fazer piadas sobre a própria desgraça sem tentar ao menos uma mudança que melhore suas vidas????

Não é o caso de dizer "se hay gobierno, yo soy contra". Porém, se fosse num país de "primeiro mundo", o povo sairia às ruas quebrando tudo, fazendo valer seus direitos de eleitores e pagadores de impostos; clientes daquele contrato que Hobbes nos fez firmar em teoria. Já aqui, os Justus, os Lupions, os Sarneys e afins perpetuam-se no poder como pelintras cujas más ações são respaldadas por nós, povo ignorante que a eles confia a direção de parte de nossas vidas.


Causos do transporte coletivo:

Estava eu procedendo com a fiscalização do Term. Cabral, próximo ao ponto do Inter 2, sentido Capão da Imbuia, quando, às 16:08 do dia 12/02, ouvi uma usuária dizer:

- Esse aqui não é o sentido Garçom da Imbuia?


Causos do passe escolar:

I

Dia 02/02, durante a tarde. Veio uma pessoa atualizar seu cartão de usuário no posto do passe escolar. Não era para fazermos, mas, como o movimento não era grande, às vezes conseguimos.
Queria essa pessoa que atualizássemos um cartão de um terceiro:

- Queria atualizar também esse cartão aqui.
- Preciso de um documento de identificação dele.
- Sério?
- Sim, senão não posso fazer a conversão.
- Então vou ligar no 156.
- Pode ligar. Aqui é só para o passe escolar; estou te fazendo um favor. Quer minha matrícula?

II

Mesmo dia, lá pelas 16:46h. Uma das estagiárias perguntou:

- Como é mesmo o nome daquele doce ? Quebra-dente?
- Hã?
- Aquele doce, lá!
- Ah, quebra-queixo...

III

Ontem, dia 26/02, à tarde, contaram-me que uma senhora que tinha vindo fazer o cadastramento (e conversado comigo, na primeira vez), retornou reclamando de que eu rira de seu contracheque (o que é um absoluto contrasenso) e ficou enchendo o saco de todo mundo enquanto seu processo era deferido.
Quando voltei, contaram-me a história, e o supervisor estava desconfiado dela.
Ao saber do acontecido, disse:

- Dê-me aqui esse processo.

Fucei até descobrir onde a megera morava: um condomínio que parece ser de alto padrão. Mandei pra visita... e agora sim eu vou ter motivos pra rir.


Poema do dia:

Par De Burros

Por onde anda meu amor
Talvez por onde andei
Ao procurá-la, sem temor
Temo onde cheguei

Por onde anda meu amor
Eu nunca saberei
Pois, se soubesse, meu pudor
Faria-me esquecer

Romântico inveterado
Para alguns, um viado
Para outros, cavalheiro
Par de burros, lado a lado
Meu sentimento apagado
E meu calculismo lampeiro

Por onde anda meu amor
Sempre longe de mim
Dizem-me sempre onde estou
Que não posso desistir

Por onde anda meu amor
Já não quero descobrir
Ela que vá para onde for
Que eu descanso, enfim

Cristiano Tulio - 22/02/2011