domingo, 10 de outubro de 2010

All Eyes On Me

Já diria o mancebo que redigiu a epístola bíblica do Eclesiastes: "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade"¹. Pensei, dias atrás, numa versão um pouco diferente: conceitos dos conceitos, tudo é conceito.

Em diversos momentos anteriores, escrevi aqui que certas coisas são oriundas da mais pura crença, ou da mais simples valoração. Afinal, explicações partem de ideias, que partem de premissas ou axiomas. Se alguém começar a, digamos, aprofundar-se na explicação de uma pergunta, perceberá que, em dado instante, a resposta para a pergunta será a própria pergunta, a qual revelará uma concepção elementar tida e crida como verdadeira.

Entretanto, o que é curioso é que essas bases são tão naturalmente interpretadas como verdades que não percebemos que elas o são apenas em nosso universo. A partir daí, padronizamos conceitos e explicações nessas afirmações.

Ocorreu-me, por exemplo, um dia desses, enquanto assistia de passagem a um programa que discutia a possibilidade de vida extraterrestre, que a vida como a consideramos possível é muito difícil de ser encontrada em outros planetas, dada a peculiaridade do funcionamento de um ser vivo. Por outro lado: será que a vida pode apenas existir da forma como a conhecemos, nas condições em que a verificamos? Não seria possível que, num universo paralelo (ou no nosso próprio) a vida não dependesse tanto do Sol, ou que essas situações propícias ao nascimento de um ser tido como vivo fossem diversas?

Tudo piora quando tomamos as abstrações, as quais se originaram do real, e que passaram a simbolizá-lo (ou idealizá-lo). Os números surgiram para definir valores de coisas; as palavras apareceram para possibilitar a comunicação entre seres humanos que desejavam dar significado às coisas; os desenhos passaram a representar a imagem das coisas.

Isso foi necessário para que o ser humano organizasse a sua vida: emprestando sentido às coisas que o cercavam, criou um universo de conceitos e ideias que permitiu a sua sobrevivência, que se deu pelo aprendizado e pela memorização. Em outras palavras, pela História.

Ok, chega. Vamos aos causos.


Causos do transporte coletivo:

I

Terminal Cabral, dia 07/10/10, 16:47h. O veículo BR400, linha Cabral/Portão, chegara momentos antes. Logo, o condutor veio até mim e explanou o seguinte:

- Viu, tô com um problema no carro ali... já tentei de tudo e não consigo prender o cinto de segurança!

Chegando até o ônibus, logo que entrei pela porta da frente, logo vi: onde deveria estar a trava que segura o pino do cinto, estava um buraco. Não havia como prender o cinto! Mandei tocar o barco, mas ferrei com a empresa... dane-se.

II

Mesmo Terminal, dia 08/10, às 15:22h. Tinha iniciado meu horário de lanche e, como de praxe, deixei o meu colega ir lanchar também enquanto continuava a fazer a conversão dos cartões de usuário para o novo sistema. Logo, chegou uma senhora e me entregou o seu para que assim o fizesse. Enquanto a maquininha realizava o procedimento, fui explicando-lhe como carregaria o cartão de agora em diante:

- Sabe aqueles carregadores? Esqueça; nunca mais vai precisar usar. Agora, quando o cartão tiver créditos disponíveis, vai carregar quando você encostá-lo em qualquer validador... ônibus, bilheteria, qualquer um. Só cuide para carregá-lo quando precisar, caso contrário ele poderá gastar uma passagem.

Ao que eu ouvi:

- Mas essa Urbs só complica com a nossa vida, como é que pode! Em fez de facilitar pra gente ficam inventando essas coisas, é só pra ferrar tudo mesmo!

Positivamente, é impossível agradar a gregos e troianos.

III

Mesmo Terminal, lá pelas 16:30h da tarde do dia 08/10, sexta-feira. Estávamos eu e meu colega conversando e trabalhando quando vimos o vigilante da Metropolitana correr até o banheiro feminino e retirar de lá uma piazada, idades entre 10 e 15 anos, suponho. Logo que saíram, perguntei ao guarda o que tinha acontecido.

- Não, eles foram tomar água no banheiro, vê se ali é lugar de tomar água!

Depois dizem que eles ainda não têm consciência do que fazem... ahan!


Pérolas cotidianas (dessas eu não lembro a data: são frases ou fatos inusitados que observei ou ouvi ao longo dos dias):

1

Eu: - Pois é, essa onda de violência anda complicada hein...
Porteiro: - É mesmo! Daqui um tempo a Urbs vai ter que fazer um coletinho balístico pra vocês usarem!

2

Falávamos de um colega que tinha aprontado alguma coisa errada no serviço, ou algo semelhante.
Aí o porteiro veio com essa: - É, desse jeito ele vai ganhar o Oscar da Urbs!

3

Conversávamos meu colega, o porteiro e eu sobre o salutar hábito que possuem os curitibocas de cerrar as janelas dos ônibus quando está frio. Aí falou o porteiro:

- Pois então, aí esse pessoal fica andando nos ônibus sem janela e reclamam depois...

Olhei pro meu colega e disse: - Sem janela.

Rimos pelo resto da tarde com isso.

4

Enquanto eu trabalhava com a alteração do sistema dos cartões, uma mulher na fila para seu filho:

- Calma que a gente vai ter que fazer a conversação do cartão!

5

Durante essa última semana, ficamos sem supervisor. Assim, juntávamos os relatórios e um de nós ia levá-los ao supervisor onde ele estivesse. Na quarta-feira, já reunidos os papéis, estranhávamos a demora da colega que ia levá-los... e o supervisor enchendo o nosso saco para que apressássemos com aquilo. Logo, ligamos para a menina:

- Daí, colega, tudo bem? Viu, onde é que você tá? Aaaaaaaaah, é mesmo, você tá de folga!!! Desculpe ligar aí viu, é que o supervisor tava atrás de você. Até mais!

Logo, meu colega ligou pro supervisor e deu conta do ocorrido. Ao final, este disse:

- Ah, ela tá de folga? Então vem você mesmo!!!!

Passou o resto da semana fazendo esse serviço.

6

Um dos nossos colegas enviou um registro de ocorrência por um dos motoristas da linha Guaraituba/Cabral. Logo, abri o envelope, li o R.O. e guardei-o. Quando o outro colega, que ia levá-la para o supervisor, chegou, dei-lhe o envelope:

- Aí está a R.O.. Mas abra o envelope e dê uma olhada.

Ele abriu e olhou o papel, e disse:

- O que tem?
- Não está faltando nada não?
- Como assim?
- Que número é o carro? Que tabela que é? E a que horas foi? Afinal, o que aconteceu????


Poema do dia:

It's The Danger

Flashes in my head
Make me wanna dance
See a world ahead
Any second chance

Lightning in my soul
Shocks me 'til the nerve
Put me right below
Any kind of verve

Need to move, but both my feet
Are planted deep in the air
A light grenade between my teeth
To be free from it, just a spit
But it's the danger - I don't care

Bullets to my body
Hit the rotten flesh
Wounds will speak loudly
Than if it were fresh

Cristiano Tulio - 05/10/2010


¹ Bíblia, livro do Eclesiastes, cap. 1, versículo 2.

2 comentários:

  1. Boa e velha dialética, não!?
    haha
    Ual, sua vida anda cheia de causos e pérolas, haha!

    Abraço!
    mhfrote
    http://sejamarginalsejaheroi.blogspot.com

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