segunda-feira, 25 de abril de 2011

Player In The League

Hoje, escolhi para pensar sobre um tema óbvio, porém, muito importante atualmente. Trata-se da violência recrudescente em relação às partidas esportivas - notadamente, as de futebol.

De começo, mui importante ressaltar que o esporte - tomado como gênero - é caracterizado por habilidade, treino, raça, etc.... mas também - e sobretudo - pela sorte. Em outras palavras, é um evento de prognósticos.

Assim sendo, tudo pode acontecer. Inclusive, esse é o encanto do desporto. Ademais, mais do que nunca, essa regra é válida para o futebol. Basta ver as grandes zebras das Copas do Mundo: Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra em 1950, Camarões 1 x 0 Argentina em 1990, Alemanha 3 x 2 Hungria em 1954, e assim sucessivamente.

Se assim acontece - e, aqui, chegamos ao ápice da ideia - , por que (mas, raios, por quê!), ao provocar tantas paixões, precisa também provocar tanta disputa, beirando as raias da agressão física e mental entre seus aficcionados?

Entrementes, essa não é a questão central. O foco é outro, e por um motivo simples  (inclusive, já por mim constatado junto aos "torcedores" dos três principais escretes da capital curitibana: o que está em voga não são os times, mas, sim, a própria pancadaria.

Explico: o esporte aparece, nesse caso, como mera motivação/justificativa para a selvageria, a barbárie. Funciona como uma divisão em clãs (muito popular entre as camadas de jovens de "classe baixa" - ou, calçudos) onde o clã mais forte vence os outros. Em suma: os times são apenas pretexto para que uma guerra tenha início. É a volta aos primórdios da "civilização", porém, sem o motivo que os fazia agir assim há milênios.

Obviamente, a divisão em castas, classes (ou qualquer coisa que o valha) é uma constante da sociedade através dos tempos... no entanto, nunca me pareceu tão patente que essas organizações serviriam a um fim tão inútil em si mesmo, tão desprovido de sentido. Modernidade, eis aqui teus filhos.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 12/04, Term. Cabral. Tudo fluía normalmente até que, sem mais nem menos, o motorista do DR106, Interbairros II (Anti-Horário), chega até mim na guarita e diz:

- Tem como recolher o carro? Não dá pra continuar, a porta 4 caiu!

Não acreditei, corri até lá. De fato, se não tinha mesmo caído, estava quase a ponto disso, um tanto inclinada e completamente torta. Bendita seja você, licitação, o estandarte da mudança!

II

Dia 13/04, quarta-feira, mesmo local. Às 15:06h, um passageiro entra confuso na guarita e pergunta:

- Onde que pega pro Parque Tanguá? ...ou Tingüi? Ou Tinguá! Algo assim!

Trocadalhos do carilho, viu?

III

Mesmo dia, mesmo Term. Cabral. Outro usuário (não sei se de drogas ou do transporte coletivo), esbaforido, utilizando da técnica da psicologia da inversa (vide último post), questiona-me:

- Pra ir pro Capão da Siqueira?

Algumas pessoas realmente não têm geoção nográfica.

IV

Ainda no dia 13, o motorista que faz a linha São João me sai com essa, às 16:45h:

- Que feio, a Polícia Militar dando mau exemplo!
- Como assim?
- É, eles vão falando no celular, enquanto dirigem os cavalos...

A cavalaria havia acabado de passar.

V

20/04, quarta-feira, Term. Barreirinha. Chega um passageiro e pede, às 16:28h:

- Onde que pega o Fazendinha/São José?

A Urbs anda criando novas linhas e nem me avisa...


Causos de mesa de bar:

Madrugada de 21 para 22/04. Eu e mais 4 amigos numa mesa de bar, no Shadows. Depois de umas cervejas, nada mais natural do que a confecção de pérolas verbais desse naipe:

I

- Essa foto tá bastante legível...

(Uma moça, fazendo propaganda de seu recente livro "A Arte da Leitura de Imagens").

II

- Deus fez as irmãs pra gente não pegar as primas!

(Um amigo, invertendo a lógica do velho deitado)

III

- Você corta várias cestas básicas e faz uma caneleira!

(Outro amigo, sobre o processo de fabricação de artigos esportivos na Mike)


Poema do dia:

(Esse eu rabisquei enquanto trabalhava, na quarta-feira...)

Triste Coincidência

O mundo que fala, vê e escuta
É cego, surdo e mudo
Àqueles que não o fazem

Triste coincidência
Aqueles que podem tudo
Frente aos que não podem, são incapazes

Cristiano Tulio - 20/04/2011

domingo, 10 de abril de 2011

The New Disease

   "...depois que Michel, jogador do Vôlei Futuro, "descobriu" sua homossexualidade e foi hostilizado pela torcida do Cruzeiro no primeiro jogo, em Belo Horizonte."

   Estava na fila do caixa rápido do supermercado Big, unidade do São Braz, às 21:38h do dia 08/04, sábado, ao ouvir essas palavras. Era veiculada uma reportagem sobre a atitude do time de voleibol "Vôlei Futuro" de usar camisas coloridas ao jogar contra a esquadra cruzeirense pela segunda vez.

   Súbito, lembraram-me várias personalidades que assumiram a sua homossexualidade: Elton John, Ricky Martin, Clodovil, etc.. Todas essas revelações tratadas com estardalhaço e deslumbramento pela mídia... um respeito disfarçado, em verdade. Lembrou-me, ainda, um dito de um primo meu, que postara no Twitter há alguns dias: "Os homossexuais só serão respeitados em algum lugar, quando lésbicas aceitarem serem chamadas de lésbicas, bichas aceitarem serem chamados de bichas, sapatões aceitarem serem chamadas de sapatões, isso sem ficar choramingando pelos cantos."¹

   Em que  pese a ideia não estar perfeitamente formulada, tudo isso me levou a uma conclusão óbvia, porém, encoberta pelo infindável alarde com que esse assunto é tratado: os homossexuais serão levados a sério apenas no dia em que assumir essa condição passe a ser encarado como um fenômeno normal, sem causar rebuliço ou reações exacerbadas de quem quer que seja.

  O que existe, de fato, é uma grande, enorme hipocrisia em relação a isso. O homossexual é visto como um ser diferente a quem se deve proteger. Há todo um trato presumidamente taciturno em relação ao assunto; porém, com uma ponta de sarcasmo. Um beijo gay numa novela, sempre vetado pelas emissoras? O sucesso do filme "O Segredo de Brokeback Mountain"? Como encarar como natural uma coisa que vem sendo, continuamente, anunciada e coberta pela imprensa com matizes das mais brilhantes e sons dos mais retumbantes?

   Creio que o homossexual sério deteste toda essa balbúrdia em seu derredor; essa coisa de "parada gay" é apenas para chamar a atenção. Claro, não se pode desprezar a máxima jurídica "tratar desigualmente os desiguais em sua desigualdade". No entanto, quando que isso realmente será considerado comum?

   Isso sem contar o sentimentalismo exagerado dos dias de hoje... mas isso já é assunto para um outro texto.


Causos do transporte coletivo:

I

Dia 04/03, seguinda-feira, Term. Cabral, meu retorno ao serviço normal. O dia transcorre sem maiores sustos quando, às 16:03h, um usuário entra na guarita:

Queria fazer o cartão Urbs da "Ubs"!

Seja lá o que isso for!

II

Nessa mesma segunda, lá pelo meio da tarde, uma donzela com muita graça e donaire tinha vindo pedir informações ao meu colega e a mim, na guarita. Ao sair, abriu um sorriso simplesmente perfeito; era linda.
Mais tarde, pelas 16:50h, comentávamos sobre ela, quando meu colega disse:

- Tava na hora de vir o carro da "sorriso" e ainda não veio.

Eu, completamente absorto, respondi:

- Ué, mas é a (Cidade) Sorriso que tá fazendo a linha?

Mal voltei ao trabalho e já estou esclerosado.

III

Quarta, dia 06/04, 13:35h, Cabral velho de guerra. Uma usuária veio nos pedir como chegar à Pç. Rui Barbosa. Orientamo-la e, logo que esta saiu, meu colega comentou comigo:

- Se bem que a Rui Barbosa é um lugar meio confuso assim...

No que a usuária, que já estava a uns 5 metros de distância, respondeu:

- É...

Quando viu que não era com ela, saiu ligeiro.

IV

Ainda na quarta, às 13:45h, uma outra passageira veio perguntar-nos:

- Onde pega o Colina Verde que vai no Peru?!

Rua Peru, diga-se de passagem.

V

Dia 08/04, sexta-feira, Term. Cabral again. Estávamos fazendo um trabalho especial com o Interbairros II, sendo que eu estava controlando o sentido anti-horário e, meu colega, o horário. Entretanto, anotava os do sentido horário também em meu relatório.
Logo, às 13:04h, pedi a ele algumas tabelas:

- Me vê o tabela 20 e o tabela 1.
- Não tenho o tabela 21.

Quem é o esclerosado mesmo?

VI

E, enquanto empenhados nesse serviço de controle, nessa mesma data e local, às 14:34h, uma passageira chegou até nós perguntando:

- Inter 2, sentido Campina da Imbuia?

Será que ela tinha ideia de onde queria chegar?

VII

Pouco depois, ainda no mesmo dia, observava meu colega reunindo os relatórios dos demais colegas para entregá-los ao supervisor, que estava apenas de passagem num ônibus. Logo, olhando o campo "Tempo" de um dos relatórios (o qual é preenchido sempre com "Nublado", "Bom/Ensolarado" ou "Chuvoso"), percebi que o matuto havia escrito "Céu com poucas nuvens". Não é à toa que este é seu apelido.


Poema do dia:

Mortui Non Mordent

A mente cansada e pressurosa
Ansiosa e hesitante
Cria, de súbito, o além
Espíritos, vozes, mistérios
Os quais dominam suas prosas
Aterrorizam seus instantes
E essa manhã que não vem
Com seu efeito deletério

Pois a noite é a verdade
Esse mundo é o que lha guia
Pelo que vai acontecer
Pelo que se foi, mas permanece
E, sofrendo co'a eternidade
Intermitente em noite e dia
Sente-se, logo, perder
A noção entre razão e prece

Criatura supera o criador
O plano vai além da consciência
Transformando-se em ilusão
Definindo o ilimitado
E, aí, sem cuidado ou pudor
Começa uma tênue demência
Que pode vir a ser perdição
Ou, tão-somente, o escuro lado

Cabe ao ser extinguir
Ou deixar viver o devir
Dos que jamais descansarão

Cristiano Tulio - 25/03/2011


Referências:

1 - http://twitter.com/#!/gustavosvaz, tweet do dia 06/04.